segunda-feira, 6 de maio de 2019

Cargos fictícios criados

A história da vida de Ivan Ilitch foi das mais simples, das mais comuns e portanto das mais terríveis.
Era membro do Tribunal de Justiça e morreu aos quarenta e cinco anos. Filho de um oficial cuja carreira em Petersburgo em vários ministérios e departamentos era daquelas que conduzem as pessoas a postos dos quais, em razão de seu longo tempo de serviço e da posição alcançada, não podem ser demitidas – embora seja óbvio que não possuem o menor talento para qualquer tarefa útil –, pessoas para as quais cargos são especialmente criados, os quais, embora fictícios, pagam salários que nada têm de fictícios e dos quais eles continuam vivendo o resto da vida.
Era o caso do conselheiro particular Ilya Yefimovich Golovin, membro totalmente supérfluo de uma das tantas instituições também supérfluas.
Tinha três filhos, dos quais Ivan Ilitch era o segundo. O mais velho estava seguindo os passos do pai, só que em outro ministério, e já se aproximava daquele estágio no serviço público em que a inércia é recompensada com a estabilidade. O terceiro filho era um fracasso. Jogara fora todas as suas chances em vários postos e agora estava empregado no departamento de estradas. Seu pai, seus irmãos e principalmente as esposas destes não apenas não gostavam de encontrá-lo, como evitavam sequer lembrar de sua existência, a não ser quando forçados a isso. Sua irmã casara com o Barão Greff, um oficial de Petersburgo da mesma classe do sogro.
Leon Tolstói, in A morte de Ivan Ilitch

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