Dai-me
a casa vazia e simples onde a
luz é preciosa. Dai-me a beleza intensa
e nua do que é frugal.
Quero comer devagar e gravemente como
aquele que sabe o contorno carnudo e
o peso grave das coisas.
Não quero possuir a terra mas ser um com
ela. Não quero possuir nem dominar
porque quero ser: esta é a necessidade.
Com veemência e fúria defendo a
fidelidade
ao estar terrestre. O mundo do ter
perturba
e paralisa e desvia em seus circuitos o
estar,
o viver, o ser.
Dai-me a claridade daquilo que é
exatamente
o necessário. Dai-me a limpeza de que
não
haja lucro. Que a vida seja limpa de todo
o luxo e de todo o lixo.
Chegou o tempo da nova aliança com a
vida.
Sophia
de Mello Breyner Andresen
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