O
mundo é um jardim. Uma luz banha o mundo.
A
limpeza do ar, os verdes depois das chuvas,
os
campos vestindo a relva como o carneiro a sua lã,
a
dor sem fel: uma borboleta viva espetada.
Acodem
as gratas lembranças:
moças
descalças, vestidos esvoaçantes,
tudo
seivoso como a juventude,
insidioso
prazer sem objeto.
Insisto
no vício antigo — para me proteger do inesperado gozo.
E
a mulher feia? E o homem crasso?
Em
vão. Estão todos nimbados como eu.
A
lata vazia, o estrume, o leproso no seu cavalo
estão
resplandecentes. Nas nuvens tem um rei, um reino,
um
bobo com seus berloques, um príncipe. Eu passeio nelas,
é
sólido. O que não vejo, existindo mais que a carne.
Esta
tarde inesquecível Deus me deu. Limpou meus olhos e vi:
como
o céu, o mundo verdadeiro é pastoril.
Adélia
Prado
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