terça-feira, 24 de julho de 2018

A cultura da participação

Há uma cultura que falta instalar, cultivar e desenvolver: a cultura da participação. Falo de participação entendida de maneira múltipla: política, social, cultural, de todos os tipos. A participação do indivíduo na vida, na sociedade, no seu país, no lugar onde está, em relação com os outros. Claro que a democracia, para viver e se desenvolver, necessita da participação, simplesmente existem modos de diminuí-la ao mínimo possível para ser considerado ainda um sistema democrático. Chama-se as pessoas a votar, para supostamente escolherem, e esquecemo-nos que, no momento de colocar o voto na urna, estamos a renunciar ao que deveria ser o exercício contínuo de poder democrático. Se tudo correr bem, voltamos quatro anos depois. Nesse espaço de tempo os representantes eleitos podem fazer tudo, incluindo o contrário das razões que levaram o cidadão a elegê-los.
O momento mais alto da expressão democrática é, simultaneamente, o momento da renúncia ao exercício democrático.
Falta, então, desenvolver a participação como cultura, por forma a lutar contra o espírito do “Quem vier atrás que feche a porta”. E quando deixar de haver porta para fechar!?
José Saramago, in As palavras de Saramago

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