Há uma cultura que
falta instalar, cultivar e desenvolver: a cultura da participação.
Falo de participação entendida de maneira múltipla: política,
social, cultural, de todos os tipos. A participação do indivíduo
na vida, na sociedade, no seu país, no lugar onde está, em relação
com os outros. Claro que a democracia, para viver e se desenvolver,
necessita da participação, simplesmente existem modos de diminuí-la
ao mínimo possível para ser considerado ainda um sistema
democrático. Chama-se as pessoas a votar, para supostamente
escolherem, e esquecemo-nos que, no momento de colocar o voto na
urna, estamos a renunciar ao que deveria ser o exercício contínuo
de poder democrático. Se tudo correr bem, voltamos quatro anos
depois. Nesse espaço de tempo os representantes eleitos podem fazer
tudo, incluindo o contrário das razões que levaram o cidadão a
elegê-los.
O momento mais alto
da expressão democrática é, simultaneamente, o momento da renúncia
ao exercício democrático.
Falta, então,
desenvolver a participação como cultura, por forma a lutar contra o
espírito do “Quem vier atrás que feche a porta”. E quando
deixar de haver porta para fechar!?
José Saramago,
in As palavras de Saramago
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