Senhor,
escutai meu estrondoso medo.
Tal
é que nem minha boca se abre,
tanto
me espantam os sanitários e seus vasos,
estes
que só a flores
e
a Vosso Precioso Sangue deveriam remeter-se.
No
entanto, até línguas eu queria saber
pra
expressar meu horror
nos
mil modos que o horror tem.
Quando
eu tinha quinze anos minha mãe morreu.
Foi
o sofrimento mais lindo,
a
verde vida um pasto tão bonito, eu belamente urrei,
bezerra
sem sua mãe, apenas.
Hoje,
a simples tosse sufoca, mais que a meu peito,
minha
alma imortal, e mais feia eu fico que uma feia mulher.
Eu
não tinha canais, ainda que porosa. Hoje tenho,
de
bile, de televisão, por onde os micróbios
e
minha própria imagem me excomungam.
Ó
Deus anacrônico, vem em meu socorro, como vinhas,
da
mais eterna forma: o menino quer ser feliz com seu arco.
Que
bom é suar na tarde e gritar: mãe, cê tá aí, mãe?
A
morte veio e vem, mas se devem alçar os caixões
e
com passo de marcha carregá-los, chorando sim,
mas
como quem leva espigas para o campo.
Me
estende Senhor Tua mão de ferreiro
que
segura trens e navios, puxa pelo nariz os aviões.
Que
boa é a vida se não me abandonas.
Um
violino muito ao longe chora,
silente
e vagarosa chega a noite.
A
hora, o açoite, que valem?
se
Vos tenho a meu lado, ó meu Pastor.
Adélia
Prado
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