— O
amor das formigas, você já observou o amor das formigas? —
perguntou Otávio a Isadora. Não, Isadora nunca observara o amor das
formigas. — Nem eu — confessou Otávio. — Aliás, nunca ninguém
observou o amor das formigas — sentenciou. — Mas os
entomologistas… — ponderou Isadora. — Os entomologistas pensam
que observaram — retrucou Otávio —, mas as formigas são muito
discretas. Não são como os homens e as mulheres, que amam em
público.
A
conversa continuava nessa trilha de formiga, em zigue-zague, quando a
formiga apareceu na ponta da toalha de mesa e foi subindo. Outra
formiga veio em seguida. As duas caminharam às tontas, depois
juntaram as cabecinhas num movimento elétrico, e se afastaram, cada
uma para o seu lado.
— Você
acha que elas se amaram? — perguntou Isadora. — De modo algum —
respondeu Otávio. — Trocaram sinais de serviço, apenas. E daí,
querida, ninguém ama com a cabeça, é exatamente o contrário:
cabeça atrapalha. — Pois eu acho o contrário do contrário —
disse Isadora. — As formigas podem ser mais evoluídas do que nós,
e amar acima do coração, de um modo perfeito.
Mas
a conversa não conduziu a nada, e os dois tomaram chá.
Carlos
Drummond de Andrade, in Contos plausíveis
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