Sei
que perdi tantas coisas que não poderia contá-las e que essas
perdições, agora, são o que é meu. Sei que perdi o amarelo e o
negro e penso nessas impossíveis cores como não pensam os que veem.
Meu pai morreu e está sempre a meu lado. Quando quero escandir
versos de Swinburne, o faço, me dizem, com sua voz. Só o que morreu
é nosso, só é nosso o que perdemos. Ilion foi, mas Ilion perdura
no hexâmetro que a carpe. Israel foi quando era uma antiga
nostalgia. Todo poema, como o tempo, é urna, elegia. Nossas são as
mulheres que nos deixaram, já não sujeitos á véspera, que é
naufrágio, e aos alarmes e terrores da esperança. Não há outros
paraísos a não ser os paraísos perdidos.
Jorge
Luis Borges, in Os conjurados
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