Várias
semanas se passaram. Não vi mais Nina. Fiquei com a executiva que
morava em Marina Del Rey. Ficava lá a maior parte do tempo. Ela era
uma alma boa – decente, mas um pouco perturbada, como qualquer
pessoa em nossa sociedade – e criativa o suficiente, raramente
aborrecida, e acima de tudo furiosa com os homens e com o que os
homens tinham feito a ela – aquela velha história. Mas tinha um
bom apartamento e um corpo ótimo; seus olhos eram a melhor parte –
abatidos, mas ainda esperançosos – grandes e castanhos, brilhando
o brilho bom das flores, um brilho bom como qualquer coisa boa. Mas o
tempo acaba por entrar na equação, assim como as jornadas de
trabalho de oito horas e os bazares de domingo e os amigos (dela). Eu
não tinha amigos. Mas que se foda tudo isso – o que estou tentando
dizer é que várias semanas se passaram até que Nina telefonasse.
Nina tinha um jeito peculiar de falar ao telefone – a voz monótona
e reticente. Fazia você enxergar o cabelo, o corpo de novo, a mente
de novo, tudo o que a compunha e me fazia sentir coisas que nenhuma
outra mulher era capaz de me fazer sentir.
– Hank
– ela disse –, o que você está fazendo?
– Nada.
Absolutamente nada.
–
Preciso de um favor.
– Ok.
– Quero
uma carona até a casa da Karyn.
– Tudo
bem.
– Ela
tem umas boletas. Não são muito boas, mas dão para o gasto, e não
tem mais nenhuma farmácia a que eu possa ir.
– Passo
aí daqui a pouco.
–
Preciso de quinze minutos.
– Tudo
bem.
– Só
uma coisa – ela disse.
– O
quê? – perguntei.
–
Pegamos o negócio e damos o fora. Não
quero nada daquilo que aconteceu da outra vez. Foi terrível.
– Tudo
bem.
Desliguei.
Charles
Bukowski, in Pedaços de um caderno manchado de vinho
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