O
meu avô brincava muito comigo usando as palavras. Ele escrevia
“azul” e me pedia para escrever outra palavra na frente. Eu
escrevia “preto”. Ele falava: “O azul hoje é quase preto”.
Ele fazia uma frase usando as duas palavras. Eu ficava incomodado
como ele, com toda a palavra, dava conta de fazer uma frase. Com duas
palavras, construía uma oração.
A
metáfora é muito interessante para o escritor. A metáfora é onde
o escritor se esconde e põe asas no leitor. Pela metáfora, eu me
escondo, mas ao mesmo tempo ponho asas no leitor. Vai aonde você
quiser. Você está livre para romper com tudo. Acho que o leitor é
tão criador quanto o escritor. O leitor cria muito. É o que o
Umberto Eco fala — a estrutura ausente na obra. Você gosta de uma
obra não pelo que está escrito, mas pelo lugar que ela o levou a
pensar. Isso é muito interessante.
Michel
Foucault fala que o que lemos não é a frase que está escrita.
Lemos o silêncio que existe entre as palavras. É ali que a
literatura se faz. Vou falar bem francamente. Hoje, chego à
conclusão de que escrevo porque quero dizer umas coisas e acho a
palavra oral muito perigosa.
Escrever
é mais fácil do que falar. Quando escrevo e não gosto do texto, eu
o rasgo. Jogo fora, apago, deleto, sumo com aquilo. Mas quando falo
uma coisa errada, não recolho a palavra nunca mais. Isso me incomoda
muito. Sou extremamente silencioso em minha natureza. Tenho muito
medo da palavra oral. Sinto muitas vezes que as palavras me ferem ou
eu firo alguém com essa palavra. Não recolho nunca mais essa
palavra que cai no ouvido do outro. Talvez escreva por medo da fala.
Bartolomeu
Campos de Queirós,
in Palestra no Teatro do Paiol, Curitiba - PR
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