Echo and Narcissus (1903), de John William Waterhouse
A
ninfa Liríope, mãe de Narciso, procurou Tirésias para saber se o
filho que tivera com o rio Cefiso teria vida longa.
— Sim
– respondeu o vidente –, se ele jamais se conhecer.
O
resto da história todos sabem. Apaixonado pela própria imagem
refletida na fonte, o jovem esqueceu-se de comer e de dormir,
definhou e morreu.
Se
a mãe de um aluno de oficina literária me procurasse para saber se
seu filho teria vida longa como escritor, eu responderia com as
palavras de Sócrates e não com as de Tirésias:
— Sim,
se ele conhecer a si mesmo e se for capaz de compreender que sabe que
nada sabe.
O
aluno que sacraliza o próprio texto, que contempla demais a própria
imagem, que não aceita a crítica, está fadado a ter o mesmo
destino de Narciso – fenecer de inanição à beira da fonte.
Outros,
menos vaidosos e mais abertos à dialética do desenvolvimento, serão
capazes de ir mais longe, de produzir obra mais sólida, de construir
carreira mais consistente.
Em
meu já longo aprendizado como professor de escritores, vi talentos
extraordinários, gênios precoces, candidatos poderosos à Grande
Obra autodestruírem-se pelo amor exacerbado que devotavam a si
mesmos. Suas produções, fechadas para o mundo, excessivamente
coladas à própria experiência, retratos fiéis demais de sua
própria subjetividade, boiarão para sempre sobre as águas da
literatura como frágeis narcisos, monocromáticos, autorreferentes e
desvitalizados.
Charles
Kiefer, in Para ser escritor
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