Breve, terão se completado 75 anos da primeira edição brasileira (1941) de Admirável Mundo Novo, grande romance perturbador lançado em 1932, na Inglaterra, pelo visionário filósofo e escritor Aldous Huxley.
Diante
de tanta “felicidade artificial” em nossos dias, tantas
manipulações e tantos condicionamentos contemporâneos, cabe
perguntar: seria útil reler Admirável
Mundo Novo? Acaso
é necessário retomar um livro escrito há mais de oito décadas,
numa época tão distante que a Internet não existia e sequer a TV
havia sido inventada? Seria este romance algo mais que uma
curiosidade sociológica, um best-seller ordinário e efêmero, de
que se venderam, em inglês, mais de um milhão de exemplares, já no
ano de sua publicação?
Estas
questões parecem ainda mais pertinentes porque o gênero a que
pertence a obra – ficção científica, distopia, fábula de
antecipação, a utopia científico-técnica – possui um grau muito
elevado de obsolescência. Nada envelhece mais rápido que o futuro,
sobretudo na literatura.
No
entanto, quem, superando estas reticências, mergulhar nas páginas
do romance ficará chocado por sua surpreendente atualidade. Ficará
claro que, pelo menos uma vez, o passado capturou o presente.
Recordemos que o autor, Aldous Huxley (1894-1963), narra uma história
que transcorre num futuro muito distante, próxima ao ano 2500 ou,
mais precisamente “no ano 600 da Era Fordiana”, em alusão
satírica a Henry Ford (1863-1947), pioneiro norte-americano da
indústria automobilística e inventor de um método de organização
de trabalho para a fabricação em série e padronização de peças.
Tal método, conhecido como “fordismo”, transformou os
trabalhadores em algo inferior a autômatos, robôs que repetiam, ao
longo da jornada de trabalho, um único gesto. Sua emergência
suscitou, à época, críticas violentas: pensemos, por exemplo, nos
filmes Metropolis
(1926),
de Fritz Lang, ou Tempos
Modernos (1935),
de Charles Chaplin.
Aldous
Huxley escreveu Admirável
Mundo Novo,
visão pessimista do futuro e crítica feroz do culto positivista à
ciência, num momento em que as consequências sociais da grande
crise de 1929 afetavam em cheio as sociedades ocidentais, e em que a
crença no progresso e nos regimes democráticos parecia vacilar.
Publicado
em inglês antes da chegada de Hitler ao poder na Alemanha (1933),
Admirável
Mundo Novo denuncia
a perspectiva “de pesadelo” de uma sociedade totalitária
fascinada pelo progresso científico e convencida de poder oferecer a
seus cidadãos uma felicidade obrigatória. Apresenta a visão
alucinada de uma humanidade desumanizada pelo condicionamento
pavloviano e pelo prazer ao alcance de uma pílula (o “soma”).
Num mundo horrivelmente perfeito, a sociedade decide totalmente, com
fins eugenistas e produtivistas, a sexualidade da procriação.
Veja
a matéria completa aqui.
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