terça-feira, 14 de julho de 2015

A doença: advertência e prova de força

Doente durante dez dias, fiquei de cama e faltei à escola. Meu pai trouxe-me os votos de Kafka e, de sua parte, um volume de capa colorida, da coleção Insel: Sobre os escritores e o Estilo, de Arthur Schopenhauer.
Alguns dias depois de minha cura, fui ao Instituto de Seguros Operários contra Acidentes. O Dr. Kafka estava de ótimo humor. Quando eu lhe disse que depois de minha doença me sentia muito mais forte do que antes, um sorriso de encanto irresistível apareceu em seu rosto:
- É compreensível – disse, você superou um encontro com a morte. Isso dá força.
- Toda a vida não passa de um caminho que conduz à morte – observei.
Franz Kafka olhou-me um momento com ar grave, depois, baixando os olhos para sua mesa, disse:
- Para a pessoa boa de saúde, a vida só significa de fato uma fuga inconsistente e não-confessada diante da consciência de ter de morrer um dia. A doença sempre é ao mesmo tempo uma advertência e uma prova de força. É por isso que a doença, a dor e o sofrimento são também as fontes mais importantes da religiosidade.
- Como o senhor a entende? - perguntei.
Kafka sorriu: - Entendo-a em termos judeus. Sou ligado a minha família, a meu clã. Eles sobrevivem ao indivíduo. Mas isso também não passa de uma tentativa e fuga diante da certeza da morte. Isso não passa de um desejo, mas de maneira nenhuma de uma fonte de conhecimento. Ao contrário… Por esse desejo, o pequeno Eu, temerosamente egoísta, se coloca diante da alma à procura de verdade.
Gustav Janouch, in Conversas com Kafka

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