O garoto de sorriso grande, olhar brilhante e carisma não tão comum no rap anda contagiando peças chaves da cena musical paulista. Artistas, produtores, DJs, está todo mundo de olho em Francisco Igor Almeida do Santos, conhecido artisticamente como RAPadura Xique-Chico, um rapaz de 25 anos que nasceu em Lagoa Seca, vila da periferia de Fortaleza, e se mudou com a família para o Distrito Federal em 1997. Hoje, é na cidade satélite que o rapper nordestino mora com sua mãe, seu irmão e sua irmã.
Ainda em 1994, no Ceará, Chico começou a cantar com seu pai. “Ele tocava violão e eu o acompanhava em algumas canções. Tocávamos brega, forró e sertanejo. Além disso já fui dançarino quando curumim (criança). Cheguei até a ganhar alguns concursos de lambada na região. Quem diria, um cara que canta rap já ganhou concurso de lambada!”, conta RAPadura.
RAPadura – Fita Embolada do Engenho
Mais de 15 anos depois, em maio de 2010, RAPadura sobe ao palco do Espaço +Soma durante a Virada Cultural do RAP a convite do rapper Kamau – denominado por ele como um “cabra bom”, em uma participação especial em seu show. Foi a primeira vez que vi uma apresentação sua ao vivo – e de cair o queixo. Energia, boa dicção, presença de palco e originalidade com o apoio de um dos melhores DJs do Brasil ao seu lado, DJ RM, do Clã Leste DJs (equipe que representou o Brasil em Londres no último campeonato de turntablism – DMC), seu DJ oficial. E ele está só começando, mas já produziu todas as batidas do seu primeiro trabalho, a Fita Embolada do Engenho (2010), um EP com oito faixas que passam por rap romântico e rap autobiográfico. O menino cantador foi além e anda fazendo mais que rimas. Com termos típicos da rica linguagem nordestina, o rapper embolador preserva a cultura brasileira por meio de expressões como "oxente" e "arrente" em seus raps e também nas bases das músicas, onde mistura outros ritmos típicos do nordeste. Autoditada, produz as batidas no programa Reason 4.
Para o produtor curitibano Nave, responsável por produções de Emicida, Marcelo D2, Kamau, entre outros nomes efervescentes da cena do rap, o artista é simples, popular e extremamente original. “Rapadura é o artista que eu estava esperando há muito tempo, o elo perdido entre o rap e o repente. Quando ouvi pela primeira vez fiquei embasbacado com a levada, a poesia tipicamente nordestina, a batida, os samples e elementos regionais escolhidos a dedo. Fusão perfeita que não aparece todo dia, só alguém nascido lá poderia fazê-la com tanta maestria e bom senso. Acho que o rap nunca foi tão brasileiro”.
Foi das mãos de Kamau que Daniel Ganjaman, um dos melhores produtores do Brasil, recebeu a Fita Embolada e pode conhecer o trabalho do rapper nordestino. “Sinto que ele explora muito bem as formas de rima do repente e da embolada, onde, diferente do formato mais ‘pop’ e americanizado de música que conhecemos, as rimas nem sempre se encontram a cada final de estrofe. É um formato de rima extremamente musical e muito pouco explorado pelos rappers, e isso já acho um enorme diferencial. Acredito muito no trabalho do RAPadura que já em seu primeiro registro está conseguindo conquistar um espaço na cena musical de São Paulo e romper com muitos preconceitos”, comenta.
O DJ e produtor da dupla Stereodubs, LX, também deixa sua impressão sobre RAPadura. “Rap Brasileiro genuíno! Ele já vem se destacando há algum tempo e acho que ainda vai ter muita história para contar e fazer na música”. Na música Norte Nordeste Me Veste, o rapper dá o seu recado para quem ainda não conhece sua obra de arte arretada: “Não vejo cabra da peste, só carioca e paulista, sô freestyleiro em Nordeste, não querem ser repentistas, rejeitam xilogravura, o cordel que é literatura, quem não tem cultura, jamais vai saber o que é RAPura!
O DJ e produtor da dupla Stereodubs, LX, também deixa sua impressão sobre RAPadura. “Rap Brasileiro genuíno! Ele já vem se destacando há algum tempo e acho que ainda vai ter muita história para contar e fazer na música”. Na música Norte Nordeste Me Veste, o rapper dá o seu recado para quem ainda não conhece sua obra de arte arretada: “Não vejo cabra da peste, só carioca e paulista, sô freestyleiro em Nordeste, não querem ser repentistas, rejeitam xilogravura, o cordel que é literatura, quem não tem cultura, jamais vai saber o que é RAPura!
Por aí, dá pra perceber que o cabra é doce, gente boa, mas não é mole, não, e vai concorrer páreo a páreo nos palcos do hip hop com artistas de todo o país. Que tenha espaço para todos, e também para esse cabra arretado.
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