Fazem a guerra para fazer o amor
A rebelião estala no litoral do
Caribe e os trovões sacodem a serra Nevada. Os índios se alçam
pela liberdade de amar.
Na festa da lua cheia, dançam os
deuses no corpo do chefe Cuchacique e dão magia a seus braços. Dos
povoados de Jeriboca e Bonda, as vozes da guerra despertam a terra
toda dos índios tairona e sacodem Masinga e Masinguilla, Zaca e
Mamazaca, Mendiguaca e Rotama, Buritaca e Tairama, Taironaca,
Guachaca Chonea, Cinto e Nahuange, Maroma, Ciénaga, Dursino e
Gairaca, Origua e Durama, Dibocaca, Daona, Chengue e Masaca, Daodama,
Sacasa, Cominca, Guarinea, Mamatoco, Mauracataca, Choquenca e
Masanga.
O chefe Cuchacique veste pele de onça.
Flechas que assoviam, flechas que queimam, flechas que envenenam: os
tairona incendeiam capelas, arrebentam cruzes e matam frades, lutando
contra o deus inimigo que proíbe seus costumes.
No mais distante dos tempos, nestas
terras se divorciava quem queria e faziam o amor os irmãos, se
tinham vontade, e a mulher com o homem ou o homem com o homem ou a
mulher com a mulher. Assim foi nestas terras até que chegaram os
homens de negro e os homens de ferro, que lançam aos cães quem ama
como os antepassados amavam.
Os tairona celebram as primeiras
vitórias. Em seus templos, que o inimigo chama de casas do Diabo,
tocam a flauta nos ossos dos vencidos, bebem vinho de milho e dançam
ao som dos tambores e das trombetas de caracol. Os guerreiros
fecharam todas as passagens e caminhos para Santa Marta, e se
preparam para o assalto final.
Eduardo Galeano, em Os Nascimentos

Nenhum comentário:
Postar um comentário