A
onda rebentou, e o jato de espuma subiu tão alto e tão alvo, na luz
clara do sol, que parecia que o mar estava saudando o céu.
Encontramos
a moça com blusa de grumete e calças longas e apertadas e os
cabelos cortados curtos como os de um rapazola. Usava uma alpargata
grosseira e estava sem pintura — e nem com tudo isto chegava a ser
feia.
“É
a mocidade”, disse meu tio, “que se compraz em desprezar os
próprios encantos, ou pensa acrescê-los com recursos originais;
quando ela amadurecer será mais sábia, mas não sei, realmente, se
mais bela. É a mocidade, com a pele tensa e fresca e os olhos
limpos, que avança descuidosa. Como aquela nuvem distraída e muito
branca, levada pelo vento, que vai contente no azul, sem saber aonde
vai...”
Rubem Braga, em Recado de primavera
Nenhum comentário:
Postar um comentário