Sou
poeta
e
como poeta posso ser engenheiro,
e
como engenheiro
posso
construir pontes com versos
para
que pessoas possam passar sobre rios
ou
apenas servir de abrigo aos indigentes.
Sou
poeta
e
como poeta posso ser médico,
e
como médico
posso
fazer transplantes de coração
para
que pessoas amem novamente
ou
simplesmente receitar poemas
para
tristezas com alergias
e
alegrias sem satisfação.
Sou
poeta
e
como poeta posso ser operário,
e
como operário
posso
acordar antes do sol e dar corda no dia,
e
quando a noite chegar, serena e calma,
descansar
a ferramenta do corpo
no
consolo da família –
autopeças
de minha alma.
Sou
poeta
e
como poeta posso ser assassino,
e
como assassino posso esfaquear os tiranos
com
o aço das minhas palavras
e
disparar versos de grosso calibre
na
cabeça da multidão
sem
me preocupar com padre, juiz ou prisão.
Sou
poeta
e
como poeta posso ser Jesus,
e
como Jesus
posso
descrucificar-me
e
sem os pregos nas mãos e os fanáticos nos pés
andar
livremente sobre terra e mar
recitando
poesia em vez de sermão.
Onde
não tiver milagres,
ensinar
o pão.
Onde
faltar a palavra,
repartir
a ação.
Sérgio Vaz, em Colecionador de pedras
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