O
analista de Bagé às vezes se cansa da profissão – “O que me
aparece de louco, tchê!” –, mas sempre diz que consultório de
psicanalista, em matéria de tipos humanos interessantes, é “más
variado que a baldeação em Cacequi”. Só é preciso ter um pouco
de paciência. Como na vez em que a Lindaura introduziu no
consultório um homenzinho que se apresentou como “João
Figueiredo” e em seguida se identificou: “Presidente”.
– Buenas.
Se abanque, no más.
– Qual
é a sua patente? – perguntou o homenzinho, recusando-se a deitar
no divã coberto com um pelego.
– Pos
é daquelas branca, tchê. Não reparei na marca.
– Digo,
patente militar.
– Dei
baixa como cabo.
– Fique
sabendo que nem o ministro da Guerra manda em mim.
– Mas
eu sou do FMI! – disse o analista, levantando o homenzinho e
atirando-o em cima do divã.
Foi
um caso difícil e no fim do tratamento o homenzinho se declarou
curado do delírio de grandeza. Disse que seu nome era Pinto e
trabalhava com miudezas.
Mas
na saída, depois da última sessão, agradeceu ao analista
efusivamente e, puxando-o por um braço, segredou:
– Escuta.
Quem vai escolher o meu sucessor sou eu. Se você quiser...
O
analista puxou o homenzinho de volta e o atirou de novo no pelego.
Quando a Lindaura veio ver o que estava acontecendo, encontrou o
analista arregaçando as mangas. Ele perguntou:
– Quem
é o próximo?
– Um
édipo salteado que não larga avó.
– Suspende!
*
* *
Outra
vez um paciente com alucinação não chegou nem a começar o
tratamento.
Entrou
no consultório e dali a pouco foi posto porta afora pelo analista,
aos gritos de “Te enxerga, ó bosta!”.
– O
que foi? – quis saber a Lindaura.
– Esses
louco tão se passando...
– Esse
disse que era quem?
– O
Freud!
E
ficou resmungando.
– Mas
não respeitam mais nada!
Luís Fernando Veríssimo, em Histórias do Analista de Bagé
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