A
batalha de Xaquixaguana acabou
Gonzalo
Pizarro, o melhor lanceiro da América, o homem capaz de partir um
mosquito em pleno voo com o arcabuz ou a balestra, entrega a espada a
Pedro de La Gasca
Gonzalo
tira lentamente sua armadura de aço de Milão. La Gasca veio com a
missão de cortar-lhe as asas e agora o chefe dos rebeldes já não
sonha em coroar-se rei do Peru. Agora só sonha que La Gasca perdoe a
sua vida.
Na
tenda dos vencedores chega Pedro de Valdívia. A infantaria lutou sob
suas ordens.
– A
honra do rei estava em vossas mãos, governador – diz La Gasca.
Esta
é a primeira vez que o representante do rei o chama de governador.
Governador do Chile. Valdívia agradece, inclinando a cabeça. Tem
outras coisas para pedir, mas nem bem abre a boca e entram os
soldados que trazem o segundo homem de Gonzalo Pizarro. O general
Carvajal aparece com o elmo, bem alto de plumas. Quem o fez
prisioneiro não se atreve a tocá-lo.
De
todos os oficiais de Pizarro, Carvajal é o único que não se passou
para o lado inimigo. Quando La Gasca ofereceu o perdão do rei aos
rebeldes arrependidos, muitos soldados e capitães fincaram
subitamente as esporas e a galope, através do pântano, mudaram de
acampamento. Carvajal ficou e lutou até que derrubaram seu cavalo.
– Carvajal
– diz Diego Centeno, comandante das tropas vitoriosa. – Caíste
com honra, Carvajal.
O
velho nem olha para ele.
– Será
que não me reconheces? – insiste Centeno, e avança a mão para
receber a espada.
Carvajal,
que mais de uma vez derrotou Centeno e o pôs em fuga e o perseguiu
por meio Peru, crava-lhe os olhos e diz:
– Só
te conhecia de costas.
E
entrega a espada a Pedro de Valdívia.
Eduardo Galeano, em Os Nascimentos
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