Como em tudo, no escrever também tenho uma espécie de receio de ir longe demais. Que será isso? Por quê? Retenho-me, como se retivesse as rédeas de um cavalo que poderia galopar e me levar Deus sabe onde. Eu me guardo. Por que e para quê? para o que estou me poupando? Eu já tive clara consciência disso quando uma vez escrevi: “é preciso ter medo de criar.” Por que o medo? Medo de conhecer os limites de minha capacidade? ou medo de aprendiz de feiticeiro que não sabia como parar? Quem sabe, assim como uma mulher se guarda intocada para dar-se um dia ao amor, talvez eu queira morrer toda inteira para que Deus me tenha toda.
Clarice Lispector, em Todas as crônicas
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