Amor,
renova agora,
Na
noite, olhos fechados, tua voz
Dói-me
no coração
Por
tudo quanto chora.
Cantas
ao pé de mim, e eu estou a sós.
Não,
a voz não é tua
Que
se ergue e acorda em mim
Murmúrios
de saudade e de inconstância,
O
luar não vem da lua
Mas
do meu ser afim
Ao
mito, à mágoa, à ausência e à distância.
Não,
não é teu o canto
Que
como um astro ao fundo
Da
noite imensa do meu coração
Chama
em vão, chama tanto…
Quem,
sou não sei... e o mundo?…
Renova,
amor, a antiga e vã canção.
Cantas
mais que por ti.
Tua
voz é uma ponte
Por
onde passa, inúmero, um segredo
Que
nunca recebi –
Murmúrio
do horizonte,
Água
na noite, morte que vem cedo.
Assim,
cantas sem que existas.
Ao
fim do luar pressinto
Melhores
sonhos que este da ilusão.
Fernando Pessoa, em Poesias inéditas e poemas dramáticos
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