quarta-feira, 25 de setembro de 2024

A Contadora de Filmes | [38]

Saí da confeitaria com sensações que se enfrentavam. Por uma parte, sentia que era verdade o que se dizia: que se a televisão conseguisse se difundir ia matar irremediavelmente o cinema.
Mas sentia também uma pequena esperança para o meu ofício, pois logo depois de saber de que assunto se tratava, disse a mim mesma que ninguém ia preferir olhar aquelas imagens fantasmagóricas – e naquela caixa tão fria – a ouvir como eu contava os filmes.
Embora percebesse perfeitamente que o aparelhinho exercia uma fascinação irresistível sobre quem olhasse para ele, também entendi que, uma vez passada a novidade, todos iam despertar, sacudir-se do feitiço como os cachorrinhos se sacodem da água, e iam voltar de novo ao cinema e à sala da minha casa.
E eu tornaria a contar meus filmes.
A tele – como alguns já a chamavam com intimidade – era assim como um chiclete novo: uma vez mastigado o suficiente, já não tinha gosto de nada e acabava sendo cuspido sem remédio.
Eles iam ver só.

Hernán Rivera Letelier, em A Contadora de Filmes

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