Na
cama não se fala de filosofia.
Peguei
na mão dela, coloquei sobre meu coração, disse, meu coração é
seu, depois pus sua mão sobre minha cabeça e disse, meus
pensamentos são seus, moléculas do meu corpo estão impregnadas com
moléculas do seu.
Depois
botei a mão dela no meu pau, que estava duro, disse, é seu esse
pau.
Ela
nada disse, me chupou, depois chupei sua boceta, ela veio por cima,
fodemos, ela ficou de joelhos, rosto no travesseiro, penetrei por
trás, fodemos.
Fiquei
deitado e ela de costas para mim sentou-se sobre o meu púbis, enfiou
meu pau na boceta. Eu via meu pau entrando e saindo, via o cu rosado
dela, que depois lambi. Fodemos, fodemos, fodemos. Gozei como um
animal agonizando.
Ela
disse, te amo, vamos viver juntos.
Perguntei,
não está tão bom assim? Cada um no seu canto, nos encontramos para
ir ao cinema, passear no Jardim Botânico, comer salada com salmão,
ler poesia um para o outro, ver filmes, foder. Acordar todo dia, todo
dia, todo dia juntos na mesma cama é mortal.
Ela
respondeu que Nietzsche disse que a mesma palavra amor significa duas
coisas diferentes para o homem e para a mulher.
Para
a mulher, amor exprime renúncia, dádiva. Já o homem quer possuir a
mulher, tomá-la, a fim de se enriquecer e reforçar seu poder de
existir.
Respondi
que Nietzsche era um maluco.
Mas
aquela conversa foi o início do fim.
Na
cama não se fala de filosofia.
Rubem Fonseca, em Ela e Outras Mulheres
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