Recuperado
(com alguns pequenos arranjos) de uma entrevista dada a um jornalista
francês e nunca publicada: “Um livro aparece a público com o nome
da pessoa que o escreveu, mas essa pessoa, o autor que assina o
livro, é, e não poderia nunca deixar de ser, a par duma
personalidade e duma originalidade que o distinguem dos mais, o lugar
organizador de complexíssimas inter-relações linguísticas,
históricas, culturais, ideológicas, quer das que são suas
contemporâneas quer das que o precederam, umas e outras
conjugando-se, harmónica ou conflitivamente, para nele definir o que
chamarei uma pertença. Entendida a questão assim, e
assumidas as consequências todas do que acabo de dizer, o primeiro
‘protagonista’ de Proust, por muito singular que pareça, é a
França, e só depois dela, não obstante terem ‘principiado’
muito antes, é que vêm o Mundo e a Europa.”
José Saramago, in Cadernos de Lanzarote
Nenhum comentário:
Postar um comentário