Uma
semente engravidava a tarde.
Era
o dia nascendo, em vez da noite.
Perdia
amor seu hálito covarde,
e
a vida, corcel rubro, dava um coice,
mas
tão delicioso, que a ferida
no
peito transtornado, aceso em festa,
acordava,
gravura enlouquecida,
sobre
o tempo sem caule, uma promessa.
A
manhã sempre-sempre, e dociastutos
eus
caçadores a correr, e as presas
num
feliz entregar-se, entre soluços.
E
que mais, vida eterna, me planejas?
O
que se desatou num só momento
não
cabe no infinito, e é fuga e vento.
Carlos Drummond de Andrade, in A vida passada a limpo
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