Uma carta
Aperta a cabeça perseguindo as palavras que aparecem e fogem: Não olhem minha baixeza de ser e rudeza de dizer, suplica, e sim a vontade com que a dizê-lo sou movido.
Frei Bartolomé de las Casas escreve ao Conselho das Índias. Melhor teria sido para os índios, afirma, ir ao inferno com sua infidelidade, seu pouco a pouco e a sós, que ser salvos pelos cristãos. Já chegam aos céus os alaridos de tanto sangue humano derramado: os queimados vivos, assados em grelhas, jogados a cachorros bravos...
Levanta, caminha. Entre nuvens de pó ondula o hábito branco.
Depois, senta na beirada da cadeira cravejada de tachinhas. Com a pluma coça o nariz longo. A mão ossuda escreve. Para que na América se salvem os índios e se cumpra a lei de Deus, propõe que a cruz mande na espada. Que se submetam as guarnições aos bispos; e que se mandem colonos para cultivar a terra ao abrigo das praças fortes. Os colonos, diz, poderiam levar escravos negros ou mouros ou de outra sorte, para servir-se, ou viver por suas mãos, ou de outra maneira que não fosse em prejuízo dos índios...
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