A
Virgem de Guadalupe
Essa
luz, sobe da terra ou desce do céu? É farol ou estrela? A luz não
quer ir embora do centro de Tepeyac e em plena noite persiste e
fulgura nas pedras e se enreda nos galhos. Alucinado, iluminado, Juan
Diego viu a luz, Juan Diego, índio despido: a luz de luzes abriu-se
para ele, rompeu-se em fiapos dourados e avermelhados e no centro do
brilho apareceu a mais lúcida e luminosa das mulheres mexicanas.
Estava vestida de luz aquela que, em língua náhuatl, disse a ele:
“Eu sou a mãe de Deus”.
O
bispo Zumárraga escuta e desconfia. O bispo é o protetor oficial
dos índios, designado pelo imperador, e também o guardião de ferro
que marca na cara dos índios o nome de seus donos. Ele atirou na
fogueira os códices astecas, papéis pintados pela mão do Demônio,
e aniquilou quinhentos templos e vinte mil ídolos. Bem sabe o bispo
Zumárraga que no alto da montanha de Tepeyac tinha seu santuário a
deusa da terra, Tonantzin, e que para lá caminharam os índios em
peregrinação a render culto à nossa mãe, como chamavam essa
mulher vestida de serpentes e corações e mãos.
O
bispo desconfia e decide que o índio Juan Diego viu a Virgem de
Guadalupe. É a Virgem nascida em Extremadura, morena dos sóis da
Espanha, quem veio ao vale dos astecas para ser a mãe dos vencidos.
Eduardo Galeano, in Os Nascimentos
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