Tinha
eu acabado de entrar num táxi quando, antes que este se pusesse em
movimento, apareceu um homem moço mas de cabelos já grisalhos e
parcos, pôs a cabeça dentro do táxi e disse:
– A
senhora se incomoda de dizer para onde vai?
Respondi-lhe
que ia para Copacabana. Então ele pediu num tom implorador: deixe eu
entrar que salto antes, a essa hora está difícil de encontrar táxi.
Eu disse que ele entrasse. Entrou e sentou-se ao lado do chofer. E
começou, virado para trás: porque ele era casado, porque era muito
feliz, porque não se incomodava que sua mulher envelhecesse porque
era sempre a mulher amada, porque hoje lhe mandara rosas sem ser
aniversário de nada, porque... Bem – pensei – este engana sua
mulher fartamente.
Eu
já estava enjoada de tanto amor conjugal e por causa também do tom
ligeiramente fora de foco que ele usava nas suas mentiras não sei
por que necessárias. Foi quando meu passageiro disse: eu fico aqui.
O táxi parou, ele desceu, botou a cabeça dentro da janela e disse
para o meu espanto ofendido:
– A
senhora é um perfeito cavalheiro.
Clarice Lispector, in Todas as crônicas
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