terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

Cartas na Rua | 12


Vi olhou em volta.
O que um cara como você faz num lugar como esse?
Isso é o que todas as mulheres me perguntam.
Isso aqui é uma toca de rato.
Ajuda a manter minha modéstia.
Vamos para a minha casa.
Tudo bem.
Entramos no meu carro e ela me disse onde vivia. Paramos para comprar uns bifes generosos, legumes, coisas para salada, batatas, pão e mais bebida.
Na entrada do seu prédio havia um aviso:

É PROIBIDO FAZER BARULHO OU PERTURBAR A ORDEM. APARELHOS DE TELEVISÃO DEVEM SER DESLIGADOS ÀS 22 HORAS. AQUI MORAM TRABALHADORES.

Era um aviso enorme, em tinta vermelha.
Gostei desse negócio sobre TVs — eu disse a ela.
Pegamos o elevador. Ela tinha mesmo uma casa bacana. Levei os pacotes para a cozinha, achei dois copos, preparei dois drinques.
Vá arrumando as coisas. Já volto.
Desempacotei as coisas, coloquei sobre a pia. Me servi de outro drinque. Vi estava de volta. Toda arrumada. Brincos, salto alto, saia curta. Estava muito bonita. Sólida. Uma boa bunda, coxas e peitos. Uma parada dura!
Olá — eu disse —, sou um amigo de Vi. Ela disse que voltava num instante. Aceita um drinque?
Ela riu, então agarrei aquele corpaço e dei um beijo nela. Seus lábios eram frios como diamante, mas tinham um gosto bom.
Estou faminta — ela disse. — Agora sou eu na cozinha!
Também estou. E vou comer você!
Ela riu. Dei-lhe um beijo rápido e agarrei sua bunda. Então fui até a sala com meu drinque, sentei, estiquei as pernas e dei um suspiro.
Eu podia ficar por aqui, pensei, arrumar um dinheiro nas corridas enquanto ela me consolaria nos maus momentos, esfregaria óleo em meu corpo, cozinharia para mim, falaria comigo, iria para cama comigo. Sempre haveria discussões. É da natureza da mulher. Elas adoram lavar roupa suja, um pouquinho de gritaria, uma pitada de drama. Depois uma troca de juras de amor. Eu não era lá essas coisas na hora das juras.
Eu estava me embriagando. Ela veio com o seu drinque, sentou no meu colo, beijou-me, enfiando sua língua em minha boca. Meu pau pressionou seu rabo firme. Agarrei aquelas carnes. Apertei.
Quero te mostrar uma coisa — ela disse.
Sei que você quer, mas vamos esperar ainda uma hora depois da janta.
Ah, não estava falando disso.
Agarrei-a e enfiei minha língua em sua boca.
Vi saltou do meu colo.
Não, quero te mostrar uma foto da minha filha. Ela está em Detroit com minha mãe. Mas está vindo para cá no outono para ir pra escola.
Qual é a idade dela?
Seis.
E o pai?
Me divorciei do Roy. O filho da puta não prestava. Tudo o que ele fazia era beber e apostar nos cavalos.
Ah.
Ela voltou com a foto, colocou-a na minha mão. Tentei formar alguma ideia do que via. O fundo era muito escuro.
Olhe, Vi, ela é negra de verdade! Que diabo, será que você não podia ter tirado a foto com um fundo claro?
Ela puxou o pai. O sangue negro domina.
É, dá para ver.
Foi minha mãe quem tirou a foto.
Tenho certeza de que sua filha é uma ótima menina.
Sim, ela é ótima.
Vi pôs a foto no lugar e voltou para a cozinha.
A eterna fotografia! Mulheres e suas fotografias. Era sempre a mesma coisa, vez após vez. Vi estava parada junto ao marco da porta da cozinha.
Não beba muito agora! Você sabe o que tem pra fazer!
Não se preocupe, baby, o que é seu está guardado. Enquanto isso, me traz mais um drinque! Tive um dia daqueles. Meio scotch, meio água.
Pegue você mesmo seu drinque, papaizão.
Girei a minha cadeira, liguei a TV.
Você quer um outro dia dos bons nas corridas, mulher, é melhor trazer o drinque para o Papaizão! E vamos com isso!
Vi tinha finalmente apostado no meu cavalo no último páreo. Era um cavalo que pagava 5 por 1, e que não tinha feito uma corrida decente em dois anos. Apostei nele apenas porque era 5 por 1 quando devia ser 20. O cavalo acabou ganhando por 6 corpos, fácil. Eles tinham preparado aquele cavalinho do cu aos pelos do nariz.
Levantei os olhos e lá estava uma mão esticando um drinque sobre os meus ombros.

Charles Bukowski, in Cartas na Rua

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