quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

Blackbird


Blackbird
Compositores: Paul McCartney e John Lennon
Artista: The Beatles
Gravação: Abbey Road Studios, Londres
Lançamento: The Beatles, 1968

Blackbird singing in the dead of night
Take these broken wings and learn to fly
All your life, you were only waiting
For this moment to arise

Blackbird singing in the dead of night
Take these sunken eyes and learn to see
All your life, you were only waiting
For this moment to be free

Blackbird fly
Blackbird fly
Into the light
Of a dark black night

Blackbird singing in the dead of night
Take these broken wings and learn to fly
All your life, you were only waiting
For this moment to arise
You were only waiting
For this moment to arise
You were only waiting
For this moment to arise.

O poeta Adrian Mitchell e eu éramos bons amigos, e quando escrevi um livrinho de poemas chamado Blackbird Singing [no Brasil, O canto do pássaro-preto], Adrian me ajudou no processo. Foi editado por Bob Weil, que também trabalha comigo neste livro. Comecei a fazer recitais para promover o livro e perguntei a Adrian: “O que você faz num recital? Só declama os seus poemas?”. Ele me respondeu: “Bem, se você tiver uma história interessante sobre o poema, sempre é uma boa maneira de fazer a introdução. Depois pode ler o poema”.
A letra de “Blackbird” era um dos textos que eu planejava ler e me lembrei de duas histórias sobre ela. Uma tinha a ver com a música, o trechinho do violão que faz parte dela, onde a letra diz “Blackbird singing in the dead of night”. Era algo que George Harrison e eu tocávamos em festinhas quando éramos meninos, uma peça para alaúde de Johann Sebastian Bach. Admirávamos o dedilhado de Chet Atkins, principalmente na faixa chamada “Trambone”, que também foi tocada por Colin Manley, da banda The Remo Four. Eles começaram em Liverpool na mesma época que os Beatles.
A outra história tem a ver com “blackbird”, o melro-preto, ser uma gíria para “jovem negra”. Tenho plena consciência de que Liverpool foi um porto de escravos e que também abrigou a primeira comunidade caribenha na Inglaterra. Por isso, conhecíamos muitos negros, em particular no mundo musical, como Lord Woodbine, cantor de calipso e promotor de eventos que administrava bares em Liverpool, incluindo o New Cabaret Artists’ Club, onde tocamos na época do The Silver Beetles, e o Derry, do Derry and The Seniors, grupo que abriu o caminho para nós em Hamburgo.
Quando eu compus “Blackbird”, em 1968, eu tinha plena consciência das graves tensões raciais nos Estados Unidos. No ano anterior, 1967, os ânimos se acirraram, mas em 1968 a coisa piorou. A canção foi composta semanas após o assassinato de Martin Luther King. As imagens contidas na letra (asas quebradas, olhos encovados, anseio geral por liberdade) têm muito a ver com esse momento.
E o conselho de Adrian Mitchell sobre a importância de fazer uma introdução ao ler uma poesia teve outro desfecho. Em meus shows rotineiros, passei cada vez mais a contextualizar as canções, contando algumas das histórias por trás delas. Acho que o público realmente aprecia descobrir um novo ângulo na atmosfera planetária da canção e, assim, dar uma espiada no lado oculto da Lua.

Paul McCartney, in As Letras: 1956 até o presente

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