terça-feira, 7 de novembro de 2023

Hollywood | 28



Assim, lá estava eu sentado batendo poemas e enviando-os às pequenas revistas. Por algum motivo, o conto não estava chegando à máquina, e eu não gostava disso, mas não podia forçá-lo, e portanto ficava ali brincando com o poema. Era minha liberação e minha festa. Talvez o conto voltasse um dia. Os cavalinhos corriam, o vinho ainda rolava, e Sarah fazia um belo trabalho no jardim.
Não tive notícias de Jon durante uma semana, mais ou menos, e aí, uma noite, o telefone tocou.
Sabe aquele novo produtor pra quem conseguimos a liberação dada por Blackford?
Sim, ele está pronto pra começar?
Recuou. Diz que não quer fazer o filme.
Por quê?
Disse que enquanto esperava os papéis de liberação lhe ofereceram outra propriedade que ele prefere. Um argumento sobre dois órfãos gêmeos que conquistam o Campeonato Mundial de Duplas de Tênis.
Parece sensacional. Eu gostaria de ter pensado nisso.
Mas tem boas notícias também.
Como, por exemplo?
A Firepower decidiu ir em frente com o filme.
Quê? Por quê?
Acho que ficaram com medo de que ninguém mais faça. Acho que eles farejam grana no negócio. Afinal, o orçamento foi reduzido aos ossos. Todo mundo aceitou um corte. E isso foi obra deles, a obra de arte deles. Não creio que queiram que outros se beneficiem com isso. Harry Friedman me ligou. “Eu quero aquela porra daquele filme”, disse. “Tudo certo”, respondi, “você ganhou.” “E se esse filme não faturar, eu pessoalmente corto todos os seus dedos!”
Então estamos em marcha de novo?
Em marcha de novo.
Aí, três ou quatro noites depois, o telefone tocou. Era Jon.
Tudo bem se eu for aí? Tem uma coisa que a gente precisa conversar.
Claro, Jon…

Trinta minutos depois, ele estava na porta. A garrafa e os copos esperavam na mesinha de café.
Entra, Jon...
Onde está Sarah?
Aula de arte dramática.
Oh...
Jon rodou pela sala e encontrou seu lugar favorito junto à lareira. Enchi o seu copo.
Tudo bem, diga lá.
Bem, a gente está pronto pra começar a rodar o cronograma estabelecido. Aí Francine Bowers, que está em Boston, cai doente. Precisa fazer uma operação. Não ficará boa antes de duas semanas.
E agora?
Filmamos as cenas sem ela. Filmamos Jack Bledsoe, tudo mais. Filmamos ela no fim. A gente se prepara pra filmar a primeira cena com Jack e ele se recusa!
Por quê?
Exige um Rolls-Royce conversível pra trazer ele pro set, senão não trabalha.
Como diabos pode ele fazer isso?
Está no contrato. A gente encontra um Rolls pra ele. Não adianta. Não é da cor que ele quer. Filmamos algumas cenas sem ele nem Francine. Aí encontramos o Rolls da cor certa e Jack volta pronto pra trabalhar.
Encho os copos outra vez.
Ele quer você lá olhando pra ele – disse Jon.
Quê? Ele não sabe que tenho de ir às corridas?
Diz que não tem corrida todo dia.
Isso é verdade.
Escuta, Hank, ele quer que você escreva uma cena só pra ele.
Oh, ééé?
Quer fazer uma cena diante de um espelho, quer dizer alguma coisa diante de um espelho. Talvez um poema...
Isso pode pôr tudo a perder, Jon.
Esses atores às vezes são muito difíceis. Se ficam insatisfeitos no início, podem matar o filme todo.
Lá vou eu, pensei, vendendo meu rabo rio abaixo...
Tudo bem – eu disse. – Vou escrever o poema no espelho.
Francine também quer uma cena em que exiba as pernas. As pernas dela são sensacionais, você sabe.
Tudo bem, eu escrevo a cena...
Obrigado. Você sabe, vai receber outro pagamento. Devia receber quando começassem as filmagens, mas a Firepower suspendeu nossos pagamentos. Mas vamos receber, e quando recebermos você recebe.
Tudo bem, Jon.
Eu gostaria que você viesse ver o bar e o hotel onde estamos filmando. Estamos usando bêbados verdadeiros, sabe. Moram no tal hotel. Você vai gostar deles.
A gente vai lá segunda-feira...
Eu tive uns probleminhas com Jack...
Como?
Ele queria pegar uma cor, usar um chapeuzinho de feltro e um rabo de cavalo...
Eu não acredito...
É verdade. Levei horas pra convencer ele. E veja o que ele queria usar no filme!
Jon meteu a mão em sua valise e puxou uns óculos escuros. Colocou-os. Eram imensos. E a armação tinha a forma de palmeiras verdes, de plástico.
Esse cara tá maluco? – perguntei. – Nenhum homem no estado da Califórnia usaria uma coisa dessas.
Eu disse a ele. Ele insistiu pra usar os óculos num momento qualquer do filme, mesmo por um instante. “SE FOR DE OUTRO JEITO”, gritou pra mim, “VOCÊ VAI ME CORTAR OS BAGOS FORA!”
Bem – eu disse. – Eu não quero cortar os bagos dele fora. Vou bolar uma cena em algum ponto onde ele possa pôr os óculos.
Você manda esse material pra mim assim que escrever?
Vou fazer isso esta noite.
Servi outra rodada de drinques.
Como está François?
Sabe aqueles 60 mil que enfiou no buraco naquela roleta em que joga?
Sei.
Bem, ele se safou. Agora está ganhando seis mil e é um sujeito muito mais feliz.
Ótimo.
Três coisas o homem precisa: fé, prática e sorte.

Charles Bukowski, in Hollywood

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