Lançada
pelos Titãs em seu quarto álbum, Jesus não tem dentes no país
dos banguelas, de 1987, “Comida” se tornou uma das músicas
mais emblemáticas do espírito da banda. Cantada por Arnaldo
Antunes, foi o segundo single do disco e um sucesso nas rádios
como uma nova forma de manifesto político e social anárquico, indo
muito além dos slogans ideológicos e partidários, numa das
melhores letras da década:
“A
gente não quer só comida / a gente quer comida, diversão e arte.”
E
finalizando com os versos antológicos:
“A
gente não quer só dinheiro / A gente quer dinheiro e felicidade / A
gente não quer só dinheiro / A gente quer inteiro e não pela
metade.”
A
nova democracia ampliava as demandas sociais, já não bastavam os
velhos slogans políticos, era preciso querer o impossível.
Arnaldo
Antunes (1960) tinha feito a primeira frase, a ideia-mãe, mas não
conseguia avançar. Quando o grupo começou a trabalhar no repertório
do novo álbum, mostrou a frase ao guitarrista Marcelo Fromer
(1961-2001) e ao tecladista e cantor Sérgio Britto (1959), e juntos
criaram a melodia e desenvolveram a letra. Como Britto relembrou no
livro Titãs: Todas as canções (1984-2001), num primeiro
momento, eles acharam que a música tinha ficado meio monocórdica, e
adicionaram novos versos e uma marcante frase musical no teclado. Na
hora de gravar, tentaram até uma versão acústica, mas acertaram em
cheio com um funk eletrônico pesado, produzido por Liminha e
inspirado em Prince.
“Comida”
foi uma das primeiras músicas de um grupo de rock adotadas por
intérpretes de MPB, a partir de Marisa Monte, abrindo seu disco de
estreia MM (1988), e depois foi cantada por Maria Bethânia,
Ney Matogrosso e até pelo grupo de pagode Exaltasamba.
Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário