Eu
estudei num colégio que incentivava a competição. Mensalmente, as
notas de todos os alunos eram afixadas num mural, tornando público o
fracasso de cada um. Faziam-se comparações. Elogiavam-se os mais
fortes, desprezavam-se os fracos.
Uma
vez por ano, os alunos competiam numa espécie de Olimpíada
esportiva, que reservava medalhinhas para os bons. Nunca as ganhei.
Até que tentei. Mas percebi que meu lugar era no alambrado,
aplaudindo. Lógico que isso me frustrava; o sucesso com as mulheres
era diretamente proporcional ao número de medalhas conquistadas.
Como
escritor, ganhei meus primeiros prêmios. Alguns, merecidos. Outros,
exagero de quem me premiou. Recentemente fui convidado para entregar
um prêmio aos alunos escritores da USP. Alguma coisa mudou. De
premiado, passei a premiar; envelheço, caro teen. Li, em voz alta,
na solenidade de entrega, a saga de um premiado.
Primeiro
degrau. Um jovem escritor, incendiário, disposto a tudo, usa a
intuição e escreve um livro num fôlego só, relatando com
sinceridade sua desgraça. Surpreende-se com o bom resultado do
livro. É premiado como autor revelação. Na entrega, diz que é o
dia mais feliz da sua vida. Cita Don Leavy: “Escrever é
transformar os seus piores momentos em dinheiro.”
Segundo
degrau. É uma celebridade. A imprensa o procura, pedindo sua juvenil
opinião a respeito dos mais variados assuntos. Está na hora de
provar a que veio, se é um talento ou fruto do acaso. Escreve sobre
alcoolismo. Ganha outro prêmio. Na entrega, diz que os prêmios não
significam nada. E cita Gore Vidal: “Não basta ser bem-sucedido.
Os outros têm que fracassar.”
Terceiro
degrau. O sucesso o entedia. Passa a não receber a imprensa e a
andar com poetas concretos. Escreve sobre o suicídio. É premiado.
Despreza. Não vai na entrega porque diz que tem mais o que fazer. E
não cita ninguém, preferindo a si mesmo.
Quarto
degrau. É indicado para o prêmio mas não leva. Premiam o novo
talento que surge. Ele fica um pouco preocupado.
Quinto.
Não é nem indicado. Ele começa a achar que há um complô contra
si.
Sexto.
Cai no esquecimento. Começa a beber. Sua vida se transforma numa
desgraça.
Sétimo.
Após se suicidar, o prêmio passa a ter o seu nome. Na premiação,
vira nome de escola pública.
Há
casos em que é melhor não receber prêmios e continuar aplaudindo
do alambrado.
Marcelo Rubens Paiva, in Crônicas para ler na Escola
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