Em
certos trechos da cidade, a sinaleira do tráfego não é automática,
mas humana, isto é, há um homem a distribuir a seu bel-prazer os
verdes e os vermelhos. Mas eis que aquele homem de profissão humilde
dá preferência aos que possuem automóvel — e que exatamente por
andarem mais depressa, podem esperar um pouco mais —, de modo que
nós, os pedestres como ele, temos de aguardar um tempo enorme até
que se nos abra o sinal verde. E às vezes ao frio, ao vento, à
chuva. Concluirei daí que a máquina é mais humana do que o homem?
Não, ele é que é humano mesmo. E quem foi que falou em
puxa-saquismo? O que se pode concluir, com justeza, é que a máquina
é mais democrática.
Mário Quintana, in Caderno H
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