segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Pinte haicais

Procurando possibilidades visuais na linguagem, Kerouac combinou sua prosa espontânea com esboços, técnica que lhe foi sugerida por Ed White, amigo do tempo da Universidade de Colúmbia nos anos 40: “Por que você não faz esboços nas ruas como um pintor, mas com palavras?”.
“‘Mantenha o olho FIXAMENTE no objeto’, para haicai”, exortou-se em seus cadernos de anotações. “ESCREVA HAICAIS E ENTÃO PINTE A CENA DESCREVENDO-OS!” Ele também comparou o bom haicai à boa pintura. O melhor haicai lhe dava “a sensação que tenho olhando para uma grande pintura de Van Gogh, está lá & você não pode dizer ou fazer nada a respeito, exceto olhar, consternado diante do poder de olhar”.
Kerouac também reconheceu a cesura ou corte proposital do haicai japonês como chave para seu som e sentido. Citando Shakespeare em um caderno de anotações de 1963, Kerouac escreveu: “‘pássaros parados pensando na neve’ (combinando a ideia, assim como o som da elipse de um haicai JAP), sempre me perguntei de onde ele tirava esse som? & sempre penso, é disso que gosto em S, quando ele faz uma farra na grande noite do mundo”. A extraordinária justaposição frequentemente notada nos esboços em prosa de Kerouac – em Visões de Cody (escrito em 1951 e 1952, uma parte publicada em 1959 como Visions of Neal), Doctor Sax (escrito em julho de 1952, publicado em 1959) e “October in the Railroad Earth” (1952) – evoca especialmente o espírito do haicai, mesmo antes de ele mergulhar plenamente em sua composição.

Regina Weinreich, in Jack Kerouac – Livro de Haicais

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