Lançada
no fim de 1982, no disco anual de Roberto Carlos, que então
funcionava como um aviso de que o Natal chegara, “Fera ferida”
logo foi incorporada à sua longa lista de clássicos. Na letra
extensa, um sofrido desabafo de alguém devastado por uma separação,
Roberto e Erasmo usam imagens fortes e referências aos instintos
animais para marcar a sensação de desespero do narrador. São
tantos sentimentos expostos com crueza e lirismo, envolvidos por uma
bela melodia romântica, mas cheia de tensões, que logo foi
considerada uma das mais perfeitas composições da dupla.
A
música começa feroz, com a última briga, cheia de fúria selvagem:
“Acabei
com tudo / Escapei com vida / Tive as roupas e os sonhos / Rasgados
na minha saída.”
Depois
explica as razões de ter se entregado ao amor e se decepcionado:
“Animal
arisco / Domesticado esquece o risco / Me deixei enganar / E até me
levar por você.”
Sim,
“Fera ferida” foi um sucesso animal, não só com Roberto. Em
1987, também ganhou uma bela versão de Caetano Veloso, mais pop,
com arranjo de Lincoln Olivetti. Seis anos depois foi a vez de Maria
Bethânia, como uma das faixas mais fortes de um disco inteiramente
dedicado ao repertório do Rei, As canções que você fez pra
mim, com recordes de vendagem. Sua gravação, produzida por Guto
Graça Mello, é romântica e classuda, com belo arranjo de cordas. A
música também foi escolhida como tema de abertura e título de uma
novela que a TV Globo exibiu entre 1993 e 1994.
“Fera
ferida”, portanto, virou mais um elo entre três personagens que já
tinham uma ligação forte. Como Caetano conta, até a metade dos
anos 1960, o jovem convertido à música por João Gilberto não dava
bola para a Jovem Guarda. Foi só depois de comentários da irmã
quatro anos mais nova que começou a gostar das canções de Roberto
e Erasmo.
Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil
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