sábado, 19 de agosto de 2023

Fera ferida | Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1982


Lançada no fim de 1982, no disco anual de Roberto Carlos, que então funcionava como um aviso de que o Natal chegara, “Fera ferida” logo foi incorporada à sua longa lista de clássicos. Na letra extensa, um sofrido desabafo de alguém devastado por uma separação, Roberto e Erasmo usam imagens fortes e referências aos instintos animais para marcar a sensação de desespero do narrador. São tantos sentimentos expostos com crueza e lirismo, envolvidos por uma bela melodia romântica, mas cheia de tensões, que logo foi considerada uma das mais perfeitas composições da dupla.
A música começa feroz, com a última briga, cheia de fúria selvagem:
Acabei com tudo / Escapei com vida / Tive as roupas e os sonhos / Rasgados na minha saída.”
Depois explica as razões de ter se entregado ao amor e se decepcionado:
Animal arisco / Domesticado esquece o risco / Me deixei enganar / E até me levar por você.”
Sim, “Fera ferida” foi um sucesso animal, não só com Roberto. Em 1987, também ganhou uma bela versão de Caetano Veloso, mais pop, com arranjo de Lincoln Olivetti. Seis anos depois foi a vez de Maria Bethânia, como uma das faixas mais fortes de um disco inteiramente dedicado ao repertório do Rei, As canções que você fez pra mim, com recordes de vendagem. Sua gravação, produzida por Guto Graça Mello, é romântica e classuda, com belo arranjo de cordas. A música também foi escolhida como tema de abertura e título de uma novela que a TV Globo exibiu entre 1993 e 1994.
Fera ferida”, portanto, virou mais um elo entre três personagens que já tinham uma ligação forte. Como Caetano conta, até a metade dos anos 1960, o jovem convertido à música por João Gilberto não dava bola para a Jovem Guarda. Foi só depois de comentários da irmã quatro anos mais nova que começou a gostar das canções de Roberto e Erasmo.

Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil

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