Passaram-se
três ou quatro semanas.
Uma
noite, o telefone tocou. Era Jon.
– Como
está você? Como está Sarah?
– Estamos
bem. Você está vivo?
– Estou.
A Dança de Jim Beam também. Francine Bowers leu o argumento
e adorou. Chegou a reduzir uma fatia de seu salário habitual pra
fazer ele. Jack também, mas não diga a ninguém.
– Claro,
mas por que essas reduções?
– Estamos
negociando com a Firepower Productions, Harry Friedman e Nate
Fischman. Eles negociam duro, mas está tudo assinado. Teve um
problema, porque o agente de Jack exigiu no contrato uma cláusula
“faça ou pague”.
– Que
é isso?
– Isso
quer dizer que Jack receberá a grana dele quer o filme seja feito ou
não. A maioria dos grandes astros tem essa cláusula nos contratos.
– É
difícil acreditar que vá existir um filme.
– Tom
Pell teve muito a ver com isso, quando se ofereceu pra fazer a coisa
por um dólar. Deu ao projeto um pouco de crédito.
– Eu
gostaria que a gente tivesse o Tom...
– Bem,
ele ajudou. Quando Jack soube que Tom queria fazer o filme por um
dólar, se interessou. A Firepower se interessou. Tivemos sorte.
– Sabe
o que disse Lippy Leo Durocher?
– Quem
é esse?
– Um
jogador de bêisebol dos velhos tempos. Ele disse: “Prefiro ter
sorte a ser bom de bola.”
– Eu
acho que a gente tem sorte e é bom de bola.
– Talvez.
Mas quem são esses caras da Firepower?
– São
novos em Hollywood. Marginais. Ninguém sabe qual é a deles. Faziam
filmes de exploração na Europa. Chegaram aqui da noite pro dia e
começaram a fazer filmes às dezenas, um atrás do outro. Todo mundo
odeia eles. Mas eles fazem negócios, embora negociem duro.
– Pelo
menos pegaram Jim Beam.
– É,
quando ninguém mais queria. Eles têm um prédio enorme em North
Hollywood. Entrei no escritório e lá estava Harry Friedman sentado.
“Você tem Bledsoe e Bowers?”, perguntou. “Tenho”, eu disse.
“Tudo bem”, ele disse, “a gente tem um filme.” “Mas não
quer ler o argumento?”, eu perguntei. “Não”, ele disse.
– Cara
interessante.
– Hollywood
odeia ele.
– É
uma pena...
– Você
devia ver ele. Um homem gordão. A propósito, vai dar uma festa de
aniversário na casa dele quinta à noite. Você e Sarah devem ir. O
sócio dele, Nate Fischman, vai estar lá também...
– Nós
iremos. Me dê o endereço...
Dez
minutos depois, o telefone tornou a tocar.
– Hank,
aqui é Tim Ruddy, eu sou um dos produtores de Jim Beam.
– Trabalha
pra Firepower?
– Não,
trabalho com Jon. Somos coprodutores. Eu e Lance Edwards.
– Oh...
– De
qualquer modo, você conhece Victor Norman?
– Li
os livros dele.
– É,
ele leu os seus também. Ele vai escrever e dirigir um filme pra
Firepower. E vai à festa. Quer saber se você pode dar uma passada
no Chateau Marmont pra se encontrar com ele e irem à festa juntos.
– Qual
é o número da suíte dele?
Naquela
quinta-feira, fomos até o Chateau Marmont. O criado pegou nosso
carro e nos dirigimos à entrada. Um homem sorridente, meio calvo,
nos aguardava. Era Tim Ruddy. Fizeram-se as apresentações, e
entramos atrás dele. Victor Norman respondeu à nossa batida. Gostei
dos olhos dele. Parecia calmo e por dentro.
Apresentações.
Sarah estava com uma ótima aparência. Norman mostrou-se radiante
com ela.
Apertei
a mão dele e disse:
– O
bebum conhece o campeão.
Ele
gostou disso.
Victor
Norman era talvez o romancista mais conhecido dos Estados Unidos.
Aparecia constantemente na TV. Era volúvel e hábil com a palavra. O
que eu mais gostava nele era que não tinha medo das feministas. Era
um dos últimos defensores da masculinidade e dos colhões no país.
Para isso era preciso ter raça. Eu nem sempre gostava de sua
produção literária, mas tampouco gostava sempre da minha.
– Me
deram a maior suíte da casa com desconto. Disseram que era boa
publicidade. Mas, de qualquer maneira, a Firepower paga a conta.
Fomos
com ele para a sacada. Uma puta de uma vista de uma puta de uma
cidade.
Fazia
frio ali fora.
– Escuta,
cara – perguntei – a gente não tem nada pra beber por aqui?
Acompanhamos
Victor pelos vastos aposentos intercomunicantes. Ali dentro, a gente
se sentia protegido de tudo. Uma fortaleza de segurança. Legal,
legal.
Victor
voltou com uma garrafa de vinho.
– Achei
uma garrafa mas nenhum saca-rolhas dando sopa...
– Ah,
deus – suspirei. Um bêbado amador.
Victor
Norman estava no telefone.
– Precisamos
de um abridor. Um saca-rolhas... Um pouco mais de vinho... Algumas
garrafas de...
Olhou-nos.
O
vinho demorou algum tempo a chegar.
– Vou
fazer dois filmes pra Firepower. Vou escrever e dirigir um. E vou
atuar no outro. Jon-Luc Modard é quem vai dirigir. Espero me dar bem
com ele.
– Boa
sorte – eu disse.
Seguiu-se
uma conversa sem importância. Victor nos contou como conhecera
Charlie Chaplin. Era uma história boa, louca e engraçada.
O
vinho chegou e nos sentamos. Sarah e Tim Ruddy puseram-se a
conversar. Ela sentia que ele se sentia de fora e tentava animá-lo.
Era boa nisso. Eu, não tanto.
Victor
olhou-me.
– Está
fazendo alguma coisa agora?
– Fodendo
com um poema.
Ele
pareceu um pouco triste.
– Me
pagaram um milhão de dólares pra escrever meu próximo romance.
Isso foi há um ano. Não escrevi uma página e o dinheiro já
acabou.
– Nossa.
– Nossa
não vai ajudar.
– Eu
soube das pensões alimentícias, todas as ex-esposas...
– Ééé...
Aproximei
meu copo dele. Estava vazio. Ele tornou a enchê-lo.
– Eu
soube de suas bebedeiras...
– Ééé...
– Que
são essas coisas que você fuma?
– Beedi’s.
Da Índia. Enrolados por leprosos.
– É
mesmo?
O
vinho rolava e o tempo passava.
– Bem,
acho que é melhor irmos indo pra festa – disse Victor Norman.
– Podemos
ir no meu carro.
– Tá
legal.
Descemos.
Tim Ruddy queria ir no seu próprio carro.
O
criado trouxe meu carro. Dei-lhe uma gorjeta e Sarah entrou.
Arranquei e fomos para a festa de aniversário de Harry Friedman.
– Eu
também tenho um BMW preto – disse Victor Norman.
– Os
caras durões dirigem BMWs pretos – eu disse.
Charles Bukowski, in Hollywood
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