segunda-feira, 22 de maio de 2023

Cartas na Rua | 12


O Stone tinha um carteiro favorito. Matthew Battles. Battles nunca aparecia com um amassado na camisa. Tudo o que usava era novo, parecia novo. Os sapatos, as camisas, as calças, o quepe. Os sapatos de fato brilhavam e nenhuma de suas roupas parecia ter passado uma vez sequer pela lavanderia. Assim que uma camisa ou um par de calças ficavam um pouquinho gastos, ele os jogava fora.
Com frequência, o Stone nos dizia quando Matthew passava:
Vejam bem, lá vai um carteiro de verdade!
E o Stone estava falando sério. Seus olhos quase explodiam em faíscas de amor.
E Matthew ficava lá em pé em frente a sua caixa, ereto e limpo, penteado e com jeito de quem tinha tido uma boa noite de sono, os sapatos brilhando vitoriosos, e ele jogaria as cartas na caixa tomado de alegria.
Você é um autêntico carteiro, Matthew!
Obrigado, sr. Jonstone!

Uma vez, às cinco da manhã, entrei e fiquei sentado, esperando, bem atrás de Jonstone. Ele parecia um pouco abatido naquela camisa vermelha.
Moto estava perto de mim. Ele me disse:
Flagraram o Matthew ontem.
Flagraram o Matthew?
É, ele vinha roubando correspondências, abrindo as cartas para o Templo Nekalayla e retirando o dinheiro. Depois de quinze anos de serviço.
Como pegaram ele? Como descobriram?
Por causa das velhinhas. Elas mandavam cartas com dinheiro para Nekalayla e não recebiam nem um cartão de agradecimento ou mesmo uma resposta. Nekalayla avisou os Correios, e os Correios ficaram de olho em Matthew. Flagraram o cara abrindo as cartas no banheiro, tirando a grana.
Não brinca!
Falo sério. Pegaram ele à luz do dia.
Apoiei-me na parede.
Nekalayla tinha construído um enorme templo e o tinha pintado de um verde cor de enjoo, acho que o verde o fazia lembrar de dinheiro, e tinha um escritório com uma equipe de trinta ou quarenta pessoas que não fazia nada além de abrir envelopes, retirar os cheques e o dinheiro, registrar a soma, o nome do remetente, a data de recebimento e assim por diante. Outros se ocupavam enviando livros e panfletos escritos por Nekalayla, e sua foto estava pendurada na parede, uma foto enorme de Nekalayla em suas vestes sagradas e barba, além de um quadro, também muito grande, de Nekalayla com os olhos postos sobre o escritório, vigiando tudo.
Nekalayla alegava ter encontrado Jesus Cristo enquanto vagava pelo deserto, sendo que Cristo lhe tinha contado tudo. Sentaram juntos sobre uma pedra, e Cristo foi despejando tudo. Agora ele transmitia os segredos para aqueles que pudessem se dar ao luxo de pagar. Também celebrava uma missa todo domingo. Seus auxiliares, que eram também seus seguidores, entravam e saíam com relógio de ponto.
Imagine Matthew Battles tentando sacanear Nekalayla que tinha encontrado Jesus no deserto!
Alguém já falou no assunto com O Stone? — perguntei.
Você só pode estar de brincadeira!
Ficamos ali sentados por cerca de uma hora. Um substituto foi escalado para a caixa de Matthew. Os demais foram escalados para outros serviços. Fiquei sentado, sozinho, atrás do Stone. Então me levantei e segui até a sua mesa.
Sr. Jonstone?
Sim, Chinaski?
O que houve com o Matthew hoje? Ficou doente?
Stone baixou a cabeça. Olhou para o jornal que tinha nas mãos e fingiu seguir na leitura. Voltei para o meu lugar e me sentei.
Às sete, O Stone se virou:
Não há nada para você aqui hoje, Chinaski!
Levantei e fui em direção à porta. Parei ali.
Bom dia, sr. Jonstone. Tenha uma ótima jornada.
Ele não respondeu. Desci até a loja de bebidas e pedi uma dose de bourbon Grandad para o café da manhã.

Charles Bukowski, in Cartas na Rua

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