sábado, 18 de março de 2023

Poder do perfume

Popular, a água florida.
O seu nome-roseira
já é flor e trescala
só de o ouvirmos na sala.

A excelsa brilhantina
em potes de Paris
embalsama noivados
no sofá dos sobrados.

Jiqui, perfume nobre,
há de estar bem à vista
entre jarro e bacia
da rural burguesia.

As botas onde o estrume
deixa visível marca,
em chegando à cidade,
cedem à amenidade

que os moços fazendeiros
sabem criar em volta
de um sólido namoro
de perfumes em coro.

Qual mais recendente
a sândalo e jasmim,
ele e ela, abraçados
em cheiros conjugados,

sem se tocarem (nada
autoriza a licença
do beijo corporal)
praticam sem detença

ai! — o sexo aromal.

Carlos Drummond de Andrade, in Boitempo – Esquecer para lembrar

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