Depois
do retumbante sucesso popular de “Ouro de tolo”, Raul Seixas se
manteve em alta execução com “Metamorfose ambulante”, balada
existencialista que também foi destaque no seu primeiro álbum solo,
Krig-ha, Bandolo!, que anunciava um inusitado encontro do rock
brasileiro com o candomblé baiano em “Mosca na sopa” e, talvez
já por influência de Paulo Coelho, seu parceiro em “Al Capone”,
com as filosofias orientais e o misticismo.
“Metaformose
ambulante” é o autorretrato de um artista em eterna revolução
interna. É uma carta de intenções anunciando os seus planos de voo
livre, apostando nas contradições como uma das chaves para lidar
com um mundo também sempre em movimento. Aos 29 anos, quando se
tornou parceiro de Paulo Coelho, Raul foi apresentado por ele às
drogas, a seitas esotéricas e também ao pensamento místico do
satanista inglês Aleister Crowley.
Além
de leituras esotéricas, Paulo Coelho contou em um documentário que
“da maconha ao ácido e à cocaína, do chá de cogumelo ao
mandrix”, apresentou a Raul todas as drogas, que lhe abriram as
portas da percepção para a revolução comportamental sonhada pela
contracultura.
Num
álbum com mais sucessos populares, como “Ouro de tolo”, “Mosca
na sopa”, “Al Capone” e “Rockixe”, foi “Metamorfose
ambulante” a música que melhor expressou a natureza, a atitude e o
estilo de Raul, com sua letra confessional, analítica e didática.
“Eu
prefiro ser / Essa metamorfose ambulante / Do que ter aquela velha
opinião formada sobre tudo.”
Um
sucesso espetacular que ultrapassava de longe as suas melhores
expectativas, não tirava de Raul Seixas a consciência da
efemeridade dos sentimentos, da vida e da glória:
“Se
hoje eu sou estrela / amanhã já se apagou / se hoje eu lhe odeio /
amanhã lhe tenho amor / eu sou um ator.”
Raul
morreu dormindo em 1989, aos 44 anos, e sempre dizia que não era um
cantor nem um compositor, mas um ator fazendo esses papéis, que era
só um magro abusado.
Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil
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