Beth Carvalho abraça Guilherme de Brito e Nelson Cavaquinho
O
que era para ser uma homenagem lírica e nostálgica à Mangueira
gerou uma história de traições, brigas e discórdias.
“Folhas
secas” é uma obra-prima da fase madura da dupla Nelson Cavaquinho
e Guilherme de Brito, que, em 1973, começava a receber as merecidas
“flores em vida” que cobrara em um samba. Suas músicas eram
disputadas pelos grandes interprétes da época, e “Folhas secas”
foi gravada simultaneamente por Elis Regina e Beth Carvalho.
“Folhas
secas” estava reservada para Beth, que, cada vez mais enfronhada no
mundo dos bambas do samba, tinha escolhido a música ainda inédita
da dupla, e convidou César Camargo Mariano para fazer os arranjos do
disco Canto para um novo dia (Tapecar), com a participação
de Nelson Cavaquinho.
Os
arranjos e o piano de César ficaram maravilhosos, o problema foi ele
ser também o pianista, arranjador e namorado de Elis Regina.
Encantado com o samba, César mostrou a gravação para o então
diretor artístico da Polygram e produtor de Elis, Roberto Menescal,
que também foi arrebatado pela canção e, atropelando a ética,
decidiu oferecê-la a Elis para o disco que estava gravando.
Amiga
de César, Beth ficou furiosa, com justa razão, e gravou a música
correndo, ainda a tempo de sair junto com a gravação de Elis, que
lhe deu uma interpretação quase minimalista com um jazz trio,
enquanto Beth privilegiava uma versão mais exuberante com
instrumentação tradicional de samba.
Ainda
em 1973, o próprio Nelson gravou a sua versão, em seu terceiro
álbum solo, Nelson Cavaquinho (EMI-Odeon). Com sua voz rouca,
rascante e rachada, e o seu improvável violão rústico tocado com
dois dedos, deu ainda mais emoção e autenticidade à história
nostálgica de um velho bamba relembrando a mocidade e os poetas de
sua Estação Primeira de Mangueira.
Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil
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