domingo, 4 de dezembro de 2022

Mulheres bonitas

Existem duas vantagens de se chegar a uma certa idade. Uma é que você
tem mais coisas para lembrar, e a outra eu não me lembro. No outro dia me pediram uma lista das dez brasileiras mais bonitas do século e eu, sem tempo para pensar muito, fiz uma lista mais ou menos óbvia que começava com a Tônia Carrero e terminava com a Patrícia Pilar. Só quando não adiantava mais lembrei de umas 17 que não podiam faltar entre as dez — inclusive, onde eu estava com a cabeça, a Luíza Brunet!
Mulher bonita é um pouco como jogador de futebol, preservada a diferença na distribuição dos músculos. Quem tem mais anos de praia e de observação pode tirar da memória, só para ser diferente, um nome que ninguém mais se lembra. Vocês acham que o Pele era bom? É porque vocês não viram jogar o... (Dá até para inventar um para-Pelé que só não teve a mesma sorte, não faltarão pessoas da sua idade para confirmar que era mesmo um fenômeno injustiçado, ou porque não se lembram de mais nada ou para não parecer que não se lembram de mais nada.) Há um certo prazer melancólico em poder dizer
Vocês acham essa Paola da novela bonita? E porque vocês não conheceram a...”. E acrescentar que no tempo da outra não existia maquiagem profissional, filtros, recursos de luz e, pensando bem, nem eletricidade. Muitas belezas antigas devem a sua reputação à falta de um registro confiável, à propaganda boca a boca. Helena de Tróia, a tal do perfil que começou uma guerra, talvez não resistisse a uma fotografia, ou só resistisse com um retoque eletrônico, depois. Cleópatra dificilmente sairia na Playboy, pelo menos com aquele nariz. Provavelmente nenhuma das legendárias beldades bíblicas conseguiria uma ponta em Malhação.
Fora as brasileiras, a mulher mais bonita do século foi a Maureen O'Hara, e peço briga. Sua beleza vencia até eventuais restrições a mulheres muito grandes ou muito irlandesas. Ela era grande, irlandesa, ruiva mas perfeita. Quem foi a Maureen O'Hara, você pergunta? Eu sabia que estava falando sozinho.

Luís Fernando Veríssimo, in Sexo na cabeça

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