Hotel
Vista Angélica. Marty pagou ao recepcionista, pegou a chave e subiu
a escada. A noite não estava muito agradável. Quarto 222. Que
significava aquilo? Ele entrou e acendeu a luz. Uma dúzia de baratas
correu para dentro do papel de parede, roendo, correndo e roendo.
Havia um telefone, de moeda. Ele pôs os dez centavos e discou um
número. Ela respondeu.
– Toni?
– ele perguntou.
– É,
é Toni... – ela disse.
– Toni,
eu vou ficar louco.
– Eu
lhe disse que ia ver você. Onde está?
– No
Vista Angélica, Seis com Coronado, Quarto 222.
– Estou
aí dentro de umas duas horas.
– Não
pode vir agora?
– Escuta,
preciso levar as crianças pra casa do Carl, depois quero passar pra
dar uma olhada em Jeff e Helen, não vejo eles há anos...
– Toni,
eu te amo, pelo amor de Deus, quero ver você agora!
– Talvez
se você se livrasse de sua esposa, Marty...
– Essas
coisas levam tempo.
– Vejo
você dentro de umas duas horas, Marty.
– Escuta,
Toni...
Ela
desligou. Marty aproximou-se da cama e sentou-se na borda. Esse seria
o seu último envolvimento. Exigia muito dele. As mulheres eram mais
fortes que os homens. Elas conheciam todas as jogadas. Ele não
conhecia nenhuma.
Uma
batida na porta. Ele foi abrir. Era uma loura de quarenta e tantos
anos, com um vestido azul rasgado. Usava uma sombra roxa nos olhos e
batom pesado. Um leve cheiro de gim.
– Escuta,
você não se incomoda se eu ligar minha TV, se incomoda?
– Tudo
bem, fique à vontade.
– O
último cara em seu quarto era meio doido. Era só eu ligar a TV e
ele começava a bater nas paredes.
– Está
tudo bem. Pode ligar sua TV.
Marty
fechou a porta. Pegou o último cigarro do maço e acendeu-o. Toni
estava no seu sangue, precisava tirá-la de lá. Outra batida na
porta. A loura de novo. A sombra dos olhos era roxa, e os olhos quase
combinavam; claro que era impossível, mas parecia que ela
acrescentara mais uma camada de batom.
– Sim?
– perguntou Marty.
– Escuta
– ela disse –, sabe o que a louva-a-deus fêmea faz quando eles
fazem aquilo?
– Aquilo
o quê?
– Foder.
– Que
é que ela faz?
– Ela
come a cabeça dele. Enquanto fazem aquilo, ela come a cabeça dele.
Bem, acho que há formas piores de morrer, você não acha?
– É
– disse Marty –, como o câncer.
A
loura entrou no quarto e fechou a porta atrás. Aproximou-se e
sentou-se na única poltrona. Marty sentou-se na cama.
– Você
se excitou quando falei “foder”? – ela perguntou.
– É,
um pouco.
A
loura levantou-se da poltrona, aproximou-se da cama e pôs a cabeça
muito perto da de Marty, olhou dentro dos olhos dele e chegou os
lábios muito perto dos dele. Depois disse:
– Foder,
foder, foder! – Chegou ainda mais perto e disse mais uma vez: –
FODER!
Depois
voltou e sentou-se na poltrona.
– Como
você se chama? – perguntou Marty.
– Lilly.
Lilly LaVell. Fazia strip-tease em Burbank.
– Eu
me chamo Marty Evans. É um prazer conhecer você, Lilly.
– Foder
– ela disse bem devagar, escancarando os lábios e mostrando a
língua.
– Pode
ligar a TV quando quiser – disse Marty.
– Já
ouviu falar da aranha viúva negra? – ela perguntou.
– Não
sei.
– Bem,
eu lhe conto. Depois que fazem aquilo... foder... ela come ele
vivo.
– Oh
– disse Marty.
– Mas
tem outras maneiras piores de morrer, você não acha?
– Claro,
como a lepra, talvez.
A
loura levantou-se e pôs-se a andar de um lado para outro, de um lado
para outro.
– Tomei
um porre ontem de noite, estava na autoestrada, ouvindo um concerto
de trompa, Mozart, a trompa me penetrou, eu ia a cento e
trinta por hora, dirigindo com o cotovelo e ouvindo o concerto de
trompa, você acredita?
– Claro,
acredito, sim.
Lilly
parou de andar e olhou para Marty.
– Você
acredita que eu posso baixar a boca em você e fazer coisas que
nunca, nunca ninguém fez com um homem?
– Bem,
não sei no que acreditar.
– Bem,
eu posso, eu posso...
– Você
é legal, Lilly, mas estou esperando minha namorada aqui dentro de
uma hora.
– Bem,
eu preparo você pra ela.
Lilly
aproximou-se, abriu o zíper das calças dele, puxou o pênis para
fora da cueca.
– Oh,
que lindo!
Umedeceu
o dedo médio da mão direita e começou a esfregar a cabeça e um
pouco atrás.
– Mas
é tão roxo!
– Como
a sua sombra...
– Oh,
está ficando tão GRANDE!
Marty
deu uma risada. Uma barata saiu de trás do papel de parede para
assistir à cena. Depois outra. Mexiam as antenas. De repente, a boca
de Lilly engolira o pênis dele. Ela pegou pouco abaixo da cabeça e
chupou. A língua parecia quase uma lixa; parecia conhecer todos os
pontos certos. Marty olhava a nuca dela e excitava-se. Pôs-se a
alisar os cabelos dela e a emitir sons. Então, de repente, ela
mordeu-lhe o pênis, com força. Quase o decepou. Depois, ainda
mordendo, levantou a cabeça com um safanão. Arrancou um pedaço da
cabeça. Marty gritou e rolou na cama. A loura levantou-se e cuspiu.
Pedaços de carne e sangue espalharam-se pelo tapete. Ela se afastou,
abriu a porta, fechou-a e desapareceu.
Marty
tirou a fronha do travesseiro e comprimiu-a contra o pênis. Tinha
medo de olhar. Sentia as batidas do coração pulsarem por todo o
corpo, sobretudo lá embaixo. O sangue começou a encharcar a fronha.
Então o telefone tocou. Ele conseguiu levantar-se, aproximar-se e
atender.
– Sim?
– Marty?
– É.
– É
Toni.
– Sim,
Toni...
– Você
está falando esquisito...
– É,
Toni...
– E
só isso que tem a dizer? Estou na casa de Jeff e Helen. Vejo você
dentro de mais ou menos uma hora.
– Claro.
– Escuta,
que é que há com você? Achei que me amava.
– Não
sei mais, Toni...
– Tudo
bem então – ela disse furiosa, e desligou.
Marty
conseguiu encontrar dez centavos e enfiá-lo no telefone.
– Telefonista,
preciso de um serviço de ambulância particular. Consiga qualquer
uma, mas depressa. Talvez eu esteja morrendo...
– Já
consultou o seu médico, senhor?
– Telefonista,
por favor, me consiga uma ambulância particular!
No
quarto ao lado, à esquerda, a loura sentava-se diante de seu
aparelho de TV. Estendeu o braço e ligou-a. Chegara bem a tempo para
o Programa Dick Cavett.
Charles Bukowski, in Numa Fria
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