segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Histórias da Zona Norte

Essa vem diretamente do Bar da Maria:
Pinguço, como o apelido indica, vivia cheio de goró. Um dia, depois de uma dosagem maciça de pau-pereira com licor de ovo, teve uma dor terrível na barriga lá dele. Emborcado na serragem, gemia sem parar:
Ai, ai, ai, parece uma barra de fogo, ai, ai...
Baiano, completamente de porre, levou o Pinguço pro
Pronto-Socorro do Andaraí, onde tu entra cajá e sai caqui. Dentro do táxi, Pinguço chiava firme:
Ai, Baiano, parece uma barra de fogo...
É natural, meu irmão. Você viveu de fogo, agora tem que aguentar a barra.
O atendimento de emergência foi o tumulto costumeiro. Por estar vestido de branco, Baiano fez parte da junta médica, e, por estar caneado, deu uma porção de palpites. Lá pelas tantas, um cirurgião resmungou:
É... laparotomia no coitado...
Baiano voltou arrasado pro boteco. Pra consternação geral, foi taxativo:
Pinguço não tem a menor chance.
Meu Deus!
É. O caso é tão grave que um dos médicos cantou o Hino Nacional.
Ah, Baiano, vá se ferrar!
Juro! Ouvi direitinho: “O lábaro que ostentas estrelado...”.

Aldir Blanc, in Brasil passado a sujo

Nenhum comentário:

Postar um comentário