um
passarinho
volta
pra árvore
que
não mais existe
meu
pensamento
voa
até você
só
pra ficar triste
tenho
andado fraco
levanto
a mão
é
uma mão de macaco
tenho
andado só
lembrando
que sou pó
tenho
andado tanto
diabo
querendo ser santo
tenho
andado cheio
o
copo pelo meio
tenho
andado sem pai
yo
no creo en caminos
pero
que los hay
hay
um
dia
a
gente ia ser homero
a
obra nada menos que uma ilíada
depois
a
barra pesando
dava
pra ser aí um rimbaud
um
ungaretti um fernando pessoa qualquer
um
lorca um éluard um ginsberg
por
fim
acabamos
o pequeno poeta de província
que
sempre fomos
por
trás de tantas máscaras
que
o tempo tratou como a flores
um
poema
que
não se entende
é
digno de nota
a
dignidade suprema
de
um navio
perdendo
a rota
Meu
avô-macaco
Aquele
que Darwin buscou
Me
olha do galho:
Busca
a força dos caninos
O
vigor dos pulsos
O
arfar do peito
O
menear da cabeça
O
trabalho
Tudo
se foi
Nada
mais resta
Do
fulgor primata
Da
força de boi
Saber
Saber
mata.
Paulo Leminski
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