sexta-feira, 22 de abril de 2022

Aos pés da cruz | Zé da Zilda e Marino Pinto, 1942


Sucesso em 1942, na gravação de Orlando Silva para a RCA Victor, este samba triste sobre uma desilusão amorosa ganhou uma segunda chance. “Aos pés da cruz” foi uma das composições escolhidas por João Gilberto para o repertório de seu álbum de estreia, Chega de saudade, que, lançado em 1959, é o marco divisor da bossa nova. E foi além: gravada pelo gênio Miles Davis em 1962, abriu as portas do melhor jazz norte-americano para aquele estilo.
No histórico Chega de saudade, em meio às novidades apresentadas por compositores como Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Newton Mendonça, Carlos Lyra, Ronaldo Bôscoli e o próprio João Gilberto (que assinava duas faixas, “Bim bom” e “Ho-ba-la-lá”), o samba-canção de Zé da Zilda e Marino Pinto fez bonito. Ou melhor, continuou fazendo, provando entre outras coisas que grandes músicas se mantêm através do tempo, independentemente de modismos. Mas, sem dúvida, a versão bossa-novista de João Gilberto foi fundamental para a permanência de “Aos pés da cruz”, cuja letra também popularizou uma máxima do matemático, teólogo e filósofo francês Blaise Pascal, do século XVII: “O coração tem razões que a própria razão desconhece.”
O compositor, cantor e violonista Zé da Zilda (José Gonçalves, 1908-1954) foi um dos primeiros integrantes da ala de compositores da Mangueira, ao lado de bambas como Carlos Cachaça e Cartola. Em 1938, casou-se com a cantora Zilda, formando a Dupla da Harmonia, que também ficou conhecida como Zé da Zilda & Zilda do Zé, com quem gravou até sua precoce morte, em 1954, vítima de derrame. Um dos muitos parceiros de Zé da Zilda, Marino Pinto (1916-1965) também compôs com Wilson Batista, Ataulfo Alves, Pedro Caetano, Antonio Almeida, Paulo Soledade, Vadico, Mário Lago e até Tom Jobim (“Sucedeu assim” e “Aula de matemática”).

Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil

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