Sucesso
em 1942, na gravação de Orlando Silva para a RCA Victor, este samba
triste sobre uma desilusão amorosa ganhou uma segunda chance. “Aos
pés da cruz” foi uma das composições escolhidas por João
Gilberto para o repertório de seu álbum de estreia, Chega de
saudade, que, lançado em 1959, é o marco divisor da bossa nova.
E foi além: gravada pelo gênio Miles Davis em 1962, abriu as portas
do melhor jazz norte-americano para aquele estilo.
No
histórico Chega de saudade, em meio às novidades
apresentadas por compositores como Tom Jobim, Vinicius de Moraes,
Newton Mendonça, Carlos Lyra, Ronaldo Bôscoli e o próprio João
Gilberto (que assinava duas faixas, “Bim bom” e “Ho-ba-la-lá”),
o samba-canção de Zé da Zilda e Marino Pinto fez bonito. Ou
melhor, continuou fazendo, provando entre outras coisas que grandes
músicas se mantêm através do tempo, independentemente de modismos.
Mas, sem dúvida, a versão bossa-novista de João Gilberto foi
fundamental para a permanência de “Aos pés da cruz”, cuja letra
também popularizou uma máxima do matemático, teólogo e filósofo
francês Blaise Pascal, do século XVII: “O coração tem razões
que a própria razão desconhece.”
O
compositor, cantor e violonista Zé da Zilda (José Gonçalves,
1908-1954) foi um dos primeiros integrantes da ala de compositores da
Mangueira, ao lado de bambas como Carlos Cachaça e Cartola. Em 1938,
casou-se com a cantora Zilda, formando a Dupla da Harmonia, que
também ficou conhecida como Zé da Zilda & Zilda do Zé, com
quem gravou até sua precoce morte, em 1954, vítima de derrame. Um
dos muitos parceiros de Zé da Zilda, Marino Pinto (1916-1965) também
compôs com Wilson Batista, Ataulfo Alves, Pedro Caetano, Antonio
Almeida, Paulo Soledade, Vadico, Mário Lago e até Tom Jobim
(“Sucedeu assim” e “Aula de matemática”).
Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil
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