Acontece
assim: Blue, barriga no chão, tornozelos no ar, cotovelos e
antebraços pressionados contra gravetos e talos e grama.
O
jogo de tabuleiro que é uma esfera e uma trança e uma floresta de
árvores entrelaçadas inclui ela e a grama. Jardim sempre afirma o
Turno rival se apoia demais em enganar o tempo, evadindo-o,
deslizando por ele como pedras, mergulhando apenas os dedos dos pés,
pensando poder desviar as correntezas ondulando a superfície. Você
precisa se aprofundar no tempo, diz Jardim, para mudá-lo de modo
duradouro; jogar um jogo lento, mas vencer.
O
foco de Blue deixa tudo ao redor paralisado. Ela se inunda de verde,
segue redes de raízes pela terra e pelo ar e pela água enquanto
constrói uma trança.
Então
para. Sua mão treme.
Imagino
você esticando o braço por cima do meu ombro para corrigir minha
mão na garganta de uma vítima, para guiar a trama de um filamento.
Ela
nunca tinha reparado nas próprias mãos antes — sua mão como um
filamento.
Isso
muda tudo. A grama se trama perfeitamente. O mundo entorta enquanto
ela corre, enquanto milênios multidimensionais se dissolvem em um
perfeito tabuleiro de Go, com uma liberdade derradeira e impossível,
só esperando que Jardim surja e clame, sufocando a Agência como uma
figueira-branca estrangula seu hospedeiro.
O
trabalho profundo a preenche enquanto ela se adere a Jardim, sente
Jardim se regozijar como um rio na primavera, e ele a inunda com amor
e aprovação o bastante para saciar um século de órfãos.
É
quase o suficiente. É diferente de tudo que Jardim já lhe ofereceu
desde aquela primeira amputação. Mas dentro do rodopiante brilho de
cores frescas e reconfortantes, ela guarda uma pequena veia apartada:
vê uma mão sobre outra mão sobre uma garganta e pensa mal posso
esperar para que Red veja isso.
Amal El-Mohtar e Max Gladstone, in É assim que se perde a guerra do tempo
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