Junho
de 1999. Festa junina. Friozinho. Cheiro de pinhão.
– Oi.
Queria mandar um correio elegante pra uma menina da minha classe.
– Sim.
São cinquenta centavos. Uma ficha azul.
Destacou
a ficha com as mãos gordinhas.
– Aqui.
– Pode
ditar o texto.
– Tá.
É… “Flávia. Você é a menina mais bonita da minha vida. Mais
bonita até que a Mili das Chiquititas. Eu te amo. Assinado:
Anônimo”.
– Certo.
Agora me mostra a Flávia pra eu poder entregar.
– Tá.
Tá vendo a barraca da pescaria?
– A-hã.
– Então.
Ali na frente não tem uma menina alta?
– Hum…
Eu só tô vendo uma baixinha.
– Não,
ela é aquela alta, com um vestido bonito.
– Alta
com vestido bonito? Não tô vendo. Só vejo uma baixinha com um
vestido de estampa feia de floresta.
– Ela
é a alta, meio magra, com vestido bonito e cabelo dourado.
– Meio
magra? Não tem nenhuma.
– É,
não muito magra. Meio normal. Mas linda.
– Tem
uma moça linda na frente da barraca da pipoca.
– Não.
É na pescaria mesmo.
– Gente…
onde?! Tem um grupo de rapazes, duas velhinhas e uma menina de um
metro e cinquenta, gordinha, com o vestido estranho.
– Ela
é a que está comendo um cachorro-quente e segurando dois pastéis.
Viu?
– … a…
ahn… então é a gordinha?
– Pode
ser. Meio gordinha, mas muito bonita. Muito.
– Tá
certo. Tem razão. Eu entrego.
– Tá.
Ruth Manus, in Pega lá uma chave de fenda: e outras divagações sobre o amor
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