Eu
queria escrever uns versos para Ray Bradbury,
o
primeiro que, depois da infância, conseguiu encantar-me com suas
histórias mágicas
como
no tempo em que acreditávamos no Menino Jesus
que
vinha deixar presentes de Natal em nossos sapatos empoeirados de
meninos
e
nada tinha a ver com a impenetrável Santíssima Trindade.
Era
no tempo das verdadeiras princesas,
nossas
belíssimas primeiras namoradas
— não
essas que saem periodicamente nos jornais.
Era
no tempo dos reis verdadeiramente heráldicos como os das cartas de
jogar
e
do bravo São Jorge, com seu cavalo branco, sua lança e seu dragão.
Era
no tempo em que o cavaleiro Dom Quixote
realmente
lutava com gigantes,
os
quais se disfarçavam em moinhos de vento.
Todo
esse encantamento de uma idade perdida
Ray
Bradbury o transportou para a Idade Estelar
e
os nossos antigos balõezinhos de cor
agora
são mundos girando no ar.
Depois
de tantos anos de cínico materialismo
Ray
Bradbury é a nossa segunda vovozinha velha
que
nos vai desfiando suas histórias à beira do abismo
— e
nos enche de susto, esperança e amor.
Mário Quintana, in Esconderijos do tempo
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