terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Palpite infeliz | Noel Rosa, 1936


Outro fruto da célebre polêmica entre Noel Rosa e Wilson Batista, “Palpite infeliz” é um recado direto a seu oponente. O samba foi escrito em 1936 e gravado no mesmo ano por Aracy de Almeida.
Após o sucesso obtido por Noel com “Feitiço da Vila”, Wilson voltou à carga com
Conversa fiada”. Sem rodeios, ele questionava diretamente o rival: “É conversa fiada / dizerem que o samba / na Vila tem feitiço…”
O Poeta da Vila, mais uma vez, acusou o golpe e respondeu no mesmo tom: “Quem é você que não sabe o que diz? / Meu Deus do céu, que palpite infeliz!”
Farpas à parte, “Palpite infeliz” se impôs pela bela melodia, fundamento em que Noel sempre foi um mestre, e por oferecer uma crônica do samba urbano carioca em seus primeiros anos. Após os dois versos endereçados a Wilson, ele faz um mapeamento dos redutos de bambas da época (“Salve Estácio, Salgueiro, Mangueira, / Oswaldo Cruz e Matriz”), que vê como irmãos do bairro de Vila Isabel, onde nasceu e passou quase toda a sua breve e louca vida.
Morto aos 26 anos, vítima da então incurável tuberculose, Noel deixou uma grande e influente obra, que fez enorme sucesso nos carnavais, logo caiu na boca do povo e foi gravada e cantada no rádio pelos maiores intérpretes da época e por ele mesmo. No início dos anos 1950, após uma década de relativo esquecimento – período em que contemporâneos como Ary Barroso, Dorival Caymmi, Custódio Mesquita e Lamartine Babo não pararam de enriquecer a música brasileira –, os sambas de Noel foram redescobertos por meio da voz e da musicalidade de Aracy de Almeida, e voltaram a encantar as novas gerações, tornando-se referência do samba urbano e da crônica de costumes.

Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil

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