Outro
fruto da célebre polêmica entre Noel Rosa e Wilson Batista,
“Palpite infeliz” é um recado direto a seu oponente. O samba foi
escrito em 1936 e gravado no mesmo ano por Aracy de Almeida.
Após
o sucesso obtido por Noel com “Feitiço da Vila”, Wilson voltou à
carga com
“Conversa
fiada”. Sem rodeios, ele questionava diretamente o rival: “É
conversa fiada / dizerem que o samba / na Vila tem feitiço…”
O
Poeta da Vila, mais uma vez, acusou o golpe e respondeu no mesmo tom:
“Quem é você que não sabe o que diz? / Meu Deus do céu, que
palpite infeliz!”
Farpas
à parte, “Palpite infeliz” se impôs pela bela melodia,
fundamento em que Noel sempre foi um mestre, e por oferecer uma
crônica do samba urbano carioca em seus primeiros anos. Após os
dois versos endereçados a Wilson, ele faz um mapeamento dos redutos
de bambas da época (“Salve Estácio, Salgueiro, Mangueira, /
Oswaldo Cruz e Matriz”), que vê como irmãos do bairro de Vila
Isabel, onde nasceu e passou quase toda a sua breve e louca vida.
Morto
aos 26 anos, vítima da então incurável tuberculose, Noel deixou
uma grande e influente obra, que fez enorme sucesso nos carnavais,
logo caiu na boca do povo e foi gravada e cantada no rádio pelos
maiores intérpretes da época e por ele mesmo. No início dos anos
1950, após uma década de relativo esquecimento – período em que
contemporâneos como Ary Barroso, Dorival Caymmi, Custódio Mesquita
e Lamartine Babo não pararam de enriquecer a música brasileira –,
os sambas de Noel foram redescobertos por meio da voz e da
musicalidade de Aracy de Almeida, e voltaram a encantar as novas
gerações, tornando-se referência do samba urbano e da crônica de
costumes.
Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil
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