Seu
trabalho ali é lento, mas nunca tedioso; uma das virtudes de Blue
como agente é sua meticulosidade em cada vida. Seu marido vai ser
importante para a filha do amigo de um rival, e as conversas que Blue
tem com ele, os presentes que faz para ele, os sonhos para os quais o
embala na cama vão espalhar tentáculos de possibilidade desse fio
para outros, enviar tremores para mudar e sacudir os ramos do futuro
na direção de Jardim.
É
um presente de Jardim que seu papel ali requeira uma atenção tão
deliberada e minuciosa; que vagar na floresta e pensar em pássaros e
árvores e cores seja o esperado dela, um ponto crítico da missão.
Blue ama cidades — seu anonimato, seus cheiros e sons —, mas
também ama florestas, lugares que outras pessoas chamam de quietos,
mas que são tudo menos isso. Blue escuta os gaios, os pica-paus,
quíscalos, ri dos beija-flores brigando com as asas. Ela estende as
mãos para trepadeiras-azuis e chapins, rouxinóis preto e brancos, e
eles voam até ela, fazem de seus dedos galhos. Ela acaricia as
cristas dos pica-paus sem nomear a cor, faz uma agulha e um fio com a
emoção que sente ao tocá-la e costura a alegria que Jardim espera
que ela sinta na floresta.
Há
uma cicatriz em seu ombro agora, não importa que forma ela tome, o
franzido arabesco de um ferimento. Lobos se esquivam dela, amam-na à
distância.
Porque
é esperado que ela tome essa direção, é relativamente fácil
disfarçar sua busca; como ela vem colhendo folhas da última
estação, colecionando crânios de corvos, o pelo seco e aveludado
de cervos, dentes de raposa, não é digno de nota que ela fique
imóvel como uma presa ao ver uma enorme coruja cinza, seu rosto de
maga inclinado para ela, o brilho de suas penas desgrenhadas da cor
de um fim de noite.
A
coruja está parada, serena e digna, no oco de um carvalho, e olha
para ela.
Então
golfa uma pequena pelota, se agita, e voa para longe.
Blue
ri — súbita e agudamente — e se inclina para pegar a pelota e
enfiar no bolso. Ela a rola pelos dedos de uma das mãos sem olhar,
mais uma curiosidade para sua coleção. Ela não tira a mão do
bolso até chegar em casa; espera até o pôr do sol, quando pode
olhar o céu ficando escarlate enquanto corta cuidadosamente a pelota
e encontra ali dentro algo para ler.
Anos
depois, uma rastreadora esquadrinha a área, só um pouco abaixo da
velocidade do som, aparece e some de vista, e carrega minúsculos
fragmentos de osso de volta para a trança.
Amal El-Mohtar e Max Gladstone, in É assim que se perde a guerra do tempo
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